Cidadania e Consciência Negra.

Tenho repetido com frequência, nos últimos tempos, que sem a superação do racismo no Brasil, não há possibilidade de vivermos uma democracia plena em nosso país. Digo isso, pois no Brasil a relação entre o racismo e o autoritarismo é algo muito mais profundo do que possamos imaginar. Talvez esta seja a marca mais indelével que o regime escravocrata tenha deixado como legado da sua perversidade.

Ao nos aproximarmos de mais uma celebração do Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro), momento em que celebramos o grande líder quilombola Zumbi dos Palmares, esse alerta torna-se mais importante ainda. E este ano com uma importante novidade – o 20 de novembro é agora feriado nacional.

Embora não faça parte do time dos afro-pessimistas e reconheça que tivemos avanços importantes nos últimos anos, a exemplo das cotas raciais no ensino superior brasileiro, conquistas estas ocorridas nas gestões democráticas do Presidente Lula, é visível a estagnação que nos encontramos no que tange ao avanço das políticas públicas de promoção da igualdade racial no país.

E isso se deve, em grande parte, aos ataques que o processo democrático tem sofrido nos últimos anos e as campanhas diuturnas de ódio e mentiras nas redes sociais. Exemplo claro nesse sentido foi o que ocorreu no governo passado com a extinção do Ministério da Igualdade Racial e a quase destruição da Fundação Cultural Palmares.

Aliás, essa não foi uma ação fruto do acaso ou da maluquice de um presidente destrambelhado, mas algo pensado de forma estratégica para destruir a relação de confiança existente entre a Palmares e a comunidade negra.

Mas, não só isso. O movimento negro, por exemplo, tem sofrido uma verdadeira paralisia no tocante à elaboração de uma agenda propositiva e aglutinadora, ao tempo em que se enreda em pautas negativas e lacradoras, imaginando que cliques e engajamento nas redes sociais podem substituir a militância.

É bem verdade que essa crise de identidade e descolamento da realidade não é apenas do movimento negro, mas sim de praticamente toda a esquerda brasileira. As eleições municipais de 2024 deixaram isso muito claro, com o avanço da direita e da extrema-direita no país, inclusive dentro da comunidade negra.

Conforme afirmei recentemente em artigo publicado conjuntamente com o jornalista e escritor Emiliano José na revista Teoria e Debate:

“…sem que seja repensada e alterada profundamente a nossa prática política, nossos métodos, assim como nossa organização política, para fazer com que a consciência negra que tanto vocalizamos, seja a ferramenta para a melhoria de vida de nosso povo, é mais que um desafio, repito: é um imperativo. Para tanto, traduzir a consciência negra em participação democrática, consciência política e transformação social é o nosso caminho.”

Isso é cidadania!

Portanto, nesse 20 de novembro, o movimento negro brasileiro e seus aliados precisam se reconectar com a realidade brasileira, com o povo preto e pobre, e fazer da inclusão racial o mote para o início de uma nova e grande caminhada em defesa da promoção da igualdade racial no Brasil.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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