Apropriação cultural e suas polêmicas
A apropriação cultural vem ocorrendo há décadas de forma incisiva e silenciosa, tomando de assalto toda uma cultura, seja ela negra, asiática ou indígena. A discussão é bastante polêmica e delicada, levada a intermináveis discussões entre brancos e negros, que não se concluem em posições harmônicas. Vocês lembram da jovem branca, abordada em uma estação de metrô por uma mulher negra, por estar usando um turbante, símbolo de resistência cultural, sob a alegação de que ela não poderia usar aquele tipo de adereço, já que se tratava de uma cultura negra? A jovem estava usando o turbante porque sofria de leucemia, e por conta da quimioterapia, tinha queda dos cabelos. O que dizer deste caso, visto que ele dividiu opiniões à época dos fatos?
Carmem Miranda e Simone Beauvoair não eram negras e usavam turbantes. E destaco ainda a polêmica capa da revista ELLE, onde o cantor Pharrel Willians pousou com um cocar indígena, gerando várias críticas, levando-o a público se desculpar pelo ocorrido. Ainda nessa seara, o caso excecional da suástica, que representava felicidade e boa sorte entre os budistas e os hindus, mas se tornou um símbolo nazista. Na chegada do verão, vejo mulheres brancas em capas de revistas usando dreds como indicativo de tendência de moda para esta estação. Pergunto- me: por que não estampar negros nessas mesmas capas com seus penteados e suas maravilhosas tranças nagô?
E me deparo com uma realidade triste: Negro não é moda e não dita tendências. O que é cultural para o negro, para o branco é apenas estilo. A meu ver, apropriação cultural extrapola os valores morais e éticos e desconsidera as crenças e costumes transmitidos historicamente por gerações através de seus povos. Poderia falar sobre esta polêmica tão peculiar, que se dá na gastronomia, na moda, na religião, na cultura, enfim, no mundo em geral, visto ser um assunto infinitamente extenso e amplamente discutível.
Acredito que não haja mal algum em fazer uso de elementos de outra cultura, mas é necessário entender o contexto daquele elemento, já que nada tem a ver com um único indivíduo, mas sim com um sistema medular social e cultural de um povo, trazido por seus ancestrais. Não é um assunto tranquilo de se debater, não existe um consenso, divide opiniões, mas é imprescindível avaliar socialmente e historicamente tais conceitos, para que, ao final, não seja limitada a liberdade de cada indivíduo.
Jane Costa, advogada, pós-graduada em Direito Público; Juíza Arbitral e amante da moda.