O que significa pertencer?

Há uma sensação de aceitação, conforto e confiança. Mas o verdadeiro pertencimento vem quando uma pessoa é livre para ser quem ela é. É um entendimento de que os outros no grupo a tratarão com justiça e equidade. É ter suas necessidades atendidas sem luta.

Mas pertencer pode ser mais difícil quando você vive e trabalha em um sistema que não foi projetado com você em mente. E as mulheres negras sabem disso muito bem. O desempenho do Brasil em termos de inclusão social melhorou nas últimas décadas. Se no começo dos anos 2000 havia uma distância enorme entre brancos e negros no ensino superior, essa desigualdade, segundo o Pnad, vem diminuindo ao longo do tempo, mas o ritmo ainda é devagar.

Com a dificuldade de entrada no mercado de trabalho, o funil fica ainda mais estreito para a chegada de pessoas negras em cargos de liderança. Dados do IBGE mostram que menos de 3% de mulheres e homens negros alcançam cargos de diretoria ou gerência no Brasil. O número chega a ser três vezes menor do que mulheres e homens brancos. Mas iniciativas têm sido feitas por empresas para ampliar a equidade, entre elas vagas exclusivas e mentorias para a formação de lideranças. Porém, o alerta ainda segue aceso.

Segundo o Instituto Ethos, no ritmo em que o país está, a igualdade racial no ambiente de trabalho só será alcançada daqui a 150 anos. Uma análise do USA Today, nos EUA, descobriu que mais de um ano após o assassinato de George Floyd ter estimulado as promessas corporativas de mudança, profundas desigualdades raciais persistem em todos os níveis das maiores e mais valorizadas empresas americanas, criando resultados nitidamente díspares para os negros, especialmente para as mulheres.

O que você sente por estar na intersecção de raça e gênero e ambas as identidades ainda serem muitas vezes invisíveis? As mulheres negras têm histórias radiantes e complexas para contar. Eu mesma tenho uma trajetória assim. No entanto, às vezes elas deixam para trás suas experiências de formação de vida para adotar uma persona mais amplamente aceitável em espaços predominantemente brancos.

Programas de mentoria e aceleração de carreira podem ajudar e, inclusive, os próprios líderes do presente têm um papel nos rumos das posições de chefia. Mas a pergunta que deve pairar na cabeça dos dirigentes brancos é: “o que você está fazendo para que o seu sucessor seja uma pessoa negra?”. Por mais que as leis garantam a igualdade entre os povos, o racismo é um processo histórico que modela a sociedade até hoje. Por isso mesmo é necessário pensar a proporcionalidade em todos os níveis hierárquicos.