“Tem mulher preta na Assembleia, sim”
Olívia Santana é a primeira ativista do movimento negro eleita deputada estadual na Bahia
O ano inicia com mais uma conquista – mesmo que a passos lentos – para os negros no Brasil. Embora mais de 80% da população da Bahia se declare negra ou parda, somente a partir de 1 de janeiro de 2019 a Assembleia Legislativa Estadual registra a presença de uma mulher negra ocupando uma de suas 63 cadeiras.
Tal feito coube à professora Olívia Santana (PCdoB), mulher negra, feminista, filha de uma empregada doméstica e um marceneiro e com uma trajetória de mais de 30 anos no universo da política. Capa da RAÇA na edição 198, ela foi eleita deputada estadual com mais de 57 mil votos no pleito do ano passado. “Tem preta na Assembleia, sim. Apesar da alegria que sinto, penso que precisamos ter uma visão do quão chocante é isso em um estado como a Bahia. Além disso, a população foi historicamente educada para pensar que espaços de poder, como a política, pertencem exclusivamente aos homens”, destaca a deputada.
Atualmente, na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) apenas outros dois representantes se identificam como negros: Pastor Sargento Isidório (Avante) e Zé Raimundo (PT), segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As mulheres representam apenas 11% das vagas na atual composição da Alba.
“Preciso usar a minha presença para ampliar a porta, fazer com que outras mulheres negras acreditem e desconstroem o ideário de que é comum o lugar da mulher negra ser o da trabalhadora doméstica, o do trabalho braçal, do subemprego, de estar nos bastidores, sempre servindo.”
Olívia Santana está na política desde 1988, quando foi presidente do Diretório Acadêmico de Pedagogia – especialidade em que se formou – e secretária de Educação e Cultura do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Foi vereadora por dez anos e é autora do projeto de lei que instituiu o 21 de janeiro como o Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa, e do Projeto de Lei do Livro e da Leitura. Ela ainda foi titular da Secretaria de Educação e Cultura de Salvador, onde ganhou destaque pela implantação do Sistema Informatizado de Matrícula e implantação do ensino da História da África e da Cultura Afro-Brasileira e já dirigiu a Secretaria de Políticas para as Mulheres no governo de Rui Costa (PT). Ela destaca que ações para diminuir os índices de violência contra as mulheres no estado e o empoderamento feminino serão prioridades em seu mandato – além de zelar pela juventude negra.
“A agenda da violência contra mulheres, negros e pobres está posta. E a minha luta é antirracista. O feminismo e a luta por direitos humanos entram comigo pela porta da frente da Assembleia. Não existe emancipação das mulheres, dos negros e pobres sem que haja também o empoderamento econômico. Temos que ter formas criativas para criar empregos. Mas não só isso, é uma questão de valorizar a capacidade empreendedora da população.”