Fernanda Torres, a vitória do talento e da liberdade de expressão
Inesquecível, a expressão de perplexidade de Fernanda Torres quando foi anunciado o seu nome como vencedora do Globo de Ouro 2024, na categoria de melhor atriz, pelo seu magistral desempenho no filme “Ainda Estou Aqui”.
Os gritos de alegria que ecoaram Brasil afora, foram mais do que merecidos.
Não era para menos, o Globo de Ouro é um dos maiores prêmios do cinema mundial e uma espécie de ante sala para o Oscar. E Fernanda Torres foi a primeira atriz brasileira a a ganhar o prêmio.
Não há dúvidas sobre o talento e desempenho da atriz no filme “Ainda estou aqui” que revela ao mundo, a tragédia política e familiar que o assassinato do deputado federal, Rubens Paiva provocou.
Esse crime hediondo produzido e executado pelos porões da ditadura militar, na década de 70, diz bem do caráter brutal e desumano que os regimes ditatoriais possuem. E se esse regime tivesse sido retomado com a tentativa de golpe no 8 de janeiro de 2023, esse filme não teríamos amenor chance de ser visto por milhões de expectadores e emocionado tanta gente.
Ou seja, vale a pena lembrar que é o Estado Democrático de Direito, fazendo valer o nosso direito de conhecer a nossa verdadeira história.
Fernanda Torres encarnou a dor, o sofrimento, a coragem e a resiliência de Eunice Paiva, mulher de Rubens Paiva, que lutou incansavelmente para que o Estado brasileiro reconhecesse seu crime.
Só em 1996, 25 anos após o assassinato do deputado federal, por força da chamada Lei dos Desaparecidos, sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, é que a sua morte foi oficialmente reconhecida.
Segundo relato, da Comissão de Direitos Humanos, Rubens Paiva, foi morto, no Destacamento de Operações de Informações (DOI) do I Exército, Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, após violenta tortura e teve seu corpo enterrado clandestinamente nos arredores e posteriormente, seus restos mortais foram jogados ao mar.
O filme “Ainda estou aqui”, recupera, em certa medida, a memória de um dos períodos mais tenebrosos que o país já viveu e sinaliza que essa vereda precisa ser ampliada e apresentada ao país.
Afinal, além da morte brutal do deputado federal, muitos outros brasileiros e brasileiras também foram assassinados, torturados e perseguidos pela ditadura.
E neste sentido, vale a pena lembrar, que também precisa ganhar a luz do dia e o conhecimento da sociedade a brutal perseguição que lideranças e entidades do movimento negro brasileiro, sofreram no período.
Segundo historiadores, mas de 40 lideranças do movimento negro, foram mortas ou desaparecidas no período da ditadura, além da vigilância constante que as entidades negras sofriam a época. Afinal, o discurso de combate ao racismo, confrontava diretamente com o discurso oficial de democracia racial no país e isso era considerado subversão.
Portanto, além dos parabéns e aplausos que todos os envolvidos com o filme “Ainda Estou Aqui”, merecem, que essa premiação sirva também para novas iniciativas que abordem a abrangência da atuação do regime ditatorial brasileiro, que não alcançou apenas a classe média das grandes cidades, mas também a população preta e pobre do país.
Viva a democracia, viva a cultura, viva o cinema brasileira e viva a liberdade de expressão.
Toca a zabumba que a terra é nossa!