Ex-cônsul da França na Bahia denuncia racismo e busca justiça
Mamadou Gaye, ex-cônsul honorário da França na Bahia, enfrenta uma batalha judicial para obter reparação por injúria racial. De origem franco-senegalesa, ele foi alvo de ofensas discriminatórias enquanto exercia sua função diplomática. Apesar da decisão da Justiça que determinou uma indenização ao agressor, Gaye considera que o valor não reflete a gravidade do caso e segue buscando uma retratação pública.
Tudo começou em maio de 2023, quando Fabien Liquori, um cidadão francês residente na Bahia, pediu a Gaye que intercedesse em questões burocráticas na França, algo que não cabia ao consulado. Com a negativa, Liquori iniciou uma série de mensagens agressivas, colocando em dúvida a competência do então cônsul. Em outubro do mesmo ano, os ataques passaram a ser abertamente racistas, ele chamou Gaye de “tirano africano” e ainda escreveu que ele deveria “voltar ao seu buraco parisiense”.
Diante disso, Gaye acionou a Justiça por injúria racial. Em janeiro de 2024, o Tribunal de Justiça da Bahia determinou que Liquori pagasse R$ 3 mil por danos morais, mas não exigiu um pedido público de desculpas. Gaye recorreu, mas, em dezembro, a Justiça manteve a decisão.
A frustração com o resultado fez com que ele trouxesse o caso a público. “Foi uma violência. A Justiça disse que o que aconteceu comigo não tem importância, que o que eu senti não tem gravidade. Essa pessoa está protegida, e eu estou aqui tentando buscar justiça”, desabafa. Agora, ele estuda novos recursos e busca apoio do Ministério Público de Combate ao Racismo.
O relato de Gaye encontrou apoio em diversas instituições. A Aliança Francesa se manifestou em solidariedade, repudiando o racismo que ele sofreu e cobrando medidas mais efetivas para casos como esse. O Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da UFBA também se posicionou, reforçando a importância de punições mais rigorosas para crimes raciais.
Para Gaye, o caso vai além de um conflito pessoal. Ele vê sua experiência como um reflexo do racismo estrutural presente na sociedade e um lembrete de que ainda há muito a ser feito para combater a discriminação. “O racismo não tem explicação. Ele é absurdo”, afirma.
Mesmo diante dos desafios, ele segue determinado a buscar justiça, não só por si, mas para que episódios como esse não sejam tratados com indiferença.