Projeto Odoyá Iemanjá celebra a Rainha do Mar e resgata a força da ancestralidade negra
No dia 2 de fevereiro, Salvador desperta envolta em fé, tradição e um mar de flores. O bairro do Rio Vermelho se transforma em um grande altar a céu aberto, onde milhares de pessoas, vestidas de azul e branco, entregam suas oferendas e pedidos a Iemanjá, a Rainha do Mar. Mais do que um evento, a festa é um encontro de devoção, pertencimento e resistência da cultura afro-brasileira.
Este ano, o Projeto Odoyá Iemanjá chega para fortalecer ainda mais essa conexão, trazendo uma programação que exalta a ancestralidade negra e valoriza as manifestações culturais de matriz africana. O projeto não apenas celebra a Rainha do Mar, mas também reafirma a importância da preservação das tradições, do fortalecimento da identidade e do reconhecimento da história do povo negro na Bahia.
Desde a madrugada do dia 1º de fevereiro até o amanhecer do dia 2, Salvador vive a energia única desse festejo. Os barcos dos pescadores partem carregados de flores, espelhos, perfumes e comidas que homenageiam Iemanjá. Na areia, mãos se unem em oração, enquanto cânticos e tambores ecoam pelo mar. A cada presente lançado nas águas, há um desejo, uma gratidão, uma esperança.
A festa, que começou há mais de 100 anos com os pescadores da Colônia Z1, cresceu e se tornou uma das celebrações mais importantes do Brasil. Mas, ao longo das décadas, Iemanjá teve sua imagem embranquecida e sincretizada com figuras católicas. Hoje, com o resgate da ancestralidade, ela volta a ser reverenciada como sempre foi, uma deusa negra iorubá, mãe das águas, dos peixes e dos povos que atravessaram o Atlântico mantendo viva sua fé.
Além de toda a devoção, o Projeto Odoyá Iemanjá também impulsiona o desenvolvimento cultural e social. A programação inclui apresentações artísticas que celebram a influência africana na música, na dança e na identidade baiana. Em parceria com a Embasa, haverá distribuição gratuita de água, garantindo o bem-estar dos participantes durante as longas horas de celebração.
A festa de Iemanjá é mais do que um evento turístico ou um cartão-postal de Salvador. Ela é um símbolo de resistência. Cada canto entoado, cada oferenda entregue, cada gesto de fé é um ato de reafirmação da cultura afro-brasileira, que por tanto tempo foi marginalizada e silenciada.
Na Bahia, no Brasil e no mundo, a mensagem se espalha: Iemanjá é negra, forte e ancestral. E sua festa, mais do que uma tradição, é um lembrete de que a cultura afro-brasileira segue viva, pulsante e inquebrantável como o próprio mar.