O filme que não sabíamos que precisávamos

Confesso que, pessoalmente, nunca fui fã dos filmes de faroeste. Quando paro para refletir, talvez me identifique com a fala do escritor norte-americano James Baldwin, fã do gênero, mas que em uma análise sóbria sobre as narrativas entendia que os “mocinhos” eram sempre os homens, brancos, enquanto os “bandidos” eram os índios [indígenas]. “Embora você esteja torcendo por Gary Cooper [ator estadunidense conhecido por vários papéis que teve em filmes do gênero Western], os índios são você”.

Mas embora não tenha propriedade para falar sobre o assunto, depositei todas as minhas expectativas no filme They Harder They Fall (Vingança & Castigo), filme original da Netflix e grande destaque deste mês de Novem-bro. O filme é a estreia de Jeymes Samuel na direção, e foi anunciado em julho de 2019. As filmagens estavam programadas para começar em março de 2020, mas sofreu uma série de imprevistos como resultado da pandemia Covid-19.

Nomes estelares compõem o elenco, que produzem um efeito que só me lembrava de ter sentido em Pantera Ne-gra. Jonathan Majors, Idris Elba, Zazie Beetz, Regina King, Delroy Lindo, Lakeith Stanfield, RJ Cyler. Se cada um deles já me faria assistir a qualquer filme isoladamente, imagina todos eles, unidos. Acredito que a comparação com o Django Livre, filme de Tarantino, será inevitável por parte de uma elite crítica branca, já que o diretor é aclamado por este estilo mais “sangrento”, mas é inegável o poder que o filme traz, não só de representatividade, mas principalmente por trazer essa potência de estrelas em uma espécie de “Esquadrão Suicida” preto de faroeste.

A história gira em torno do fora da lei Nat Love (Jonathan Majors, revelação de Lovecraf Country, uma das melhores séries de 2020) e sua equipe de personagens realmente libertadores como Stagecoach Mary (Zazie Beetz), Bill Pi-ckett (Edi Gathegi) e Jim Beckwourth (RJ Cyler). Do outro lado deste ringue, seu inimigo Rufus Buck (Idris Elba) e sua equipe temível de Trudy Smith (Regina King) e Cherokee Bill (Lakeith Stanfield). A maioria dos personagens são baseados em pessoas reais, fora da lei que estão presentes na história norte-americana mas que poucas vezes na história ganhariam esta repaginada em seus feitos.

Outro destaque importante são as personagens femininas e negras desta história. Como fã de Regina King e toda sua trajetória, faltam até palavras para elogiar esta dama de Hollywood e ganhadora do Oscar, e fez um trabalho brilhante e não reconhecido como diretora em Uma Noite em Miami. Zazie Beetz também se destaca, indo muito além do esperado da jovem que tem encantado a mim desde sua participação marcante em Atlanta. Juntas, quebram o estereótipo de donzelas indefesas clássicas do gênero, mas sem perder sua essência.

Muitas vezes nesta coluna eu repeti sobre a importância na pluralidade de histórias sobre afrodescendente e suas constantes quebras de paradigmas quando os colocamos em papéis tão especiais. Ainda assim, Vingança & Castigo chega de forma surpreendentemente avassaladora, e não necessariamente por sua “originalidade” no roteiro, mas principalmente por sua força como narrativa. De longe uma das melhores coisas que a Netflix lançou este ano, é o filme que não sabíamos que precisávamos.

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