Alice Walker é a escritora que transformou dor em resistência
No dia 9 de fevereiro de 1944, nascia Alice Walker, uma das vozes mais poderosas da literatura afro-americana. Escritora, poetisa, ensaísta e ativista, ela sempre usou as palavras para dar voz a quem foi silenciado pela história. Sua trajetória é um exemplo de coragem, luta e resistência.
Alice nasceu no estado da Geórgia, em uma família de agricultores meeiros. Cresceu vendo de perto as marcas da escravidão e da segregação racial. Mas foi aos 8 anos de idade que um acidente mudou sua vida: ao ser atingida no olho por um tiro de chumbinho, perdeu parte da visão. Esse acontecimento a fez se isolar, mas também lhe deu um refúgio: a escrita.
Desde cedo, Alice encontrou nos livros e nas palavras um caminho para expressar o que sentia e enxergar o mundo de outra forma. A menina que cresceu ouvindo histórias sobre dor e resistência das mulheres negras logo percebeu que queria contar suas próprias histórias.
Nos anos 1960, Alice entrou para a Spelman College, em Atlanta, onde conheceu Martin Luther King Jr. e se tornou uma ativista pelos direitos civis. Sua luta sempre esteve conectada à sua escrita. Foi assim que, em 1982, ela lançou seu romance mais famoso: “A Cor Púrpura”.
A obra conta a história de Celie, uma mulher negra que enfrenta abusos e injustiças, mas encontra força na amizade e no amor entre mulheres. Com essa história de dor e superação, Alice Walker se tornou a primeira mulher negra a ganhar o Prêmio Pulitzer, o maior prêmio literário dos Estados Unidos.
O livro foi adaptado para o cinema por Steven Spielberg em 1985 e, recentemente, ganhou uma nova versão musical. Mas, mais do que uma história premiada, “A Cor Púrpura” se tornou um símbolo de resistência para muitas mulheres negras ao redor do mundo.
Alice Walker percebeu que o feminismo da época não falava sobre as vivências das mulheres negras. Então, ela criou o conceito de “mulherismo”, um termo que reconhece a força, a espiritualidade e a luta das mulheres negras.
“Mulherista está para o feminismo assim como o roxo está para o lavanda.” — Alice Walker
O mulherismo trouxe para o debate questões que iam além da opressão de gênero, incluindo racismo, classe social e ancestralidade. Alice mostrou que, para muitas mulheres negras, a luta pela liberdade sempre foi mais complexa.
Alice Walker não escreve apenas sobre dor, mas também sobre cura, afeto e resistência. Sua obra nos lembra da força que existe na união entre mulheres e no poder de contar nossas próprias histórias.
Aos 81 anos, Alice continua ativa, lutando por causas ambientais, sociais e pelos direitos humanos. Ela prova que a escrita pode ser um ato revolucionário e que a voz de uma mulher negra pode ecoar pelo mundo e transformar vidas.