Exposição destaca cientistas negras na astronomia
Desde sempre, o céu estrelado desperta fascínio e curiosidade. “De onde viemos? Para onde vamos?” Essas perguntas já foram feitas por grandes cientistas ao longo da história, mas, por muito tempo, algumas vozes não tiveram espaço para respondê-las. A exposição virtual “Astrofísica dos Corpos Negros” chega para mudar esse cenário, celebrando o trabalho de cientistas negras brasileiras que desafiaram barreiras para ocupar seu lugar na astronomia.
Mais do que uma experiência interativa sobre os mistérios do universo, a exposição também abre espaço para um debate urgente, a falta de representatividade na ciência. Com vídeos educativos e materiais de apoio para professores e estudantes, a mostra convida o público a refletir sobre os desafios que ainda limitam o acesso de mulheres negras ao meio acadêmico e científico.
O nome da exposição vem de um trocadilho que une ciência e sociedade. Na física, um corpo negro é um objeto teórico que absorve toda a radiação, sem refletir luz. Já na vida real, cientistas negros lutam para que seus talentos e descobertas não sejam invisibilizados.
“Queremos falar sobre a astrofísica estudada por corpos negros, trazendo um simbolismo que une o campo teórico às lutas sociais desses pesquisadores”, explica Eliade Lima, professora da Universidade Federal do Pampa e idealizadora do projeto.
A exposição homenageia grandes cientistas negras brasileiras, que transformaram desafios em combustível para suas pesquisas:
Eliade Lima: Nascida em Vitória da Conquista (BA), cresceu fascinada pelo céu. Enquanto sua família dormia cedo, ela passava as noites observando as estrelas. Hoje, é professora e pesquisa temas como Astrofísica Estelar e Raios Cósmicos.
Denise Rocha Gonçalves: Professora da UFRJ, estuda a evolução de estrelas e galáxias. Seu trabalho ajuda a entender como os elementos químicos se espalham pelo universo.
Dinalva Aires de Sale: Já foi pesquisadora na NASA e hoje atua no Brasil com AstroBioGeoQuímica, área que conecta física, química e matemática para estudar o universo.
Marcelle Soares Santos: Participou da primeira observação da luz de uma colisão de estrelas de nêutrons, um dos eventos mais importantes da astronomia moderna. Hoje, pesquisa energia escura na Universidade de Zurique, na Suíça.
Rita de Cássia dos Anjos: Especialista em astropartículas, é referência no estudo dos raios cósmicos. Em 2020, foi premiada no Programa para Mulheres na Ciência.
A exposição, financiada pelo CNPq, não é apenas uma homenagem, mas um convite para que mais meninas negras se enxerguem na ciência. Como destaca a professora Rita de Cássia dos Anjos: “Durante minha formação, não tive referência de mulheres cientistas negras. Para que mais meninas ocupem esse espaço, é essencial garantir que tenham oportunidades de acesso e permanência na universidade.”
O universo é imenso, mas o potencial humano também. “Astrofísica dos Corpos Negros” nos lembra que as estrelas não brilham sozinhas, elas formam constelações. E, quanto mais vozes puderem fazer parte dessa jornada, mais longe poderemos chegar.