Maior cidade negra do país pressiona prefeito e governador a derrubar passarela do apartheid
As derrubadas de monumentos e equipamentos públicos opressivos são uma prática comum em todo o mundo. Em diversas nações e épocas históricas, é possível notar a demonstração de coragem e dignidade de um povo que clama por justiça. Há vários exemplos, como o incêndio ocorrido em 2021 na estátua de Manuel de Borba Gato, em São Paulo. Em Bristol, na Inglaterra, uma estátua de Edward Colston, um traficante de escravos do século XVII, foi destruída por manifestantes. Nos Estados Unidos, houve a derrubada de diversas estátuas de Cristóvão Colombo em diferentes estados, como em Boston, em 2020.
Há monumentos e equipamentos que homenageiam pessoas ligadas a momentos históricos questionáveis, como a escravidão negra. O maior traficante de negros escravizados do Brasil foi o português Joaquim Pereira Marinho. Ali, no Largo de Nazaré, Hospital Santa Izabel, há uma estátua do Conde. É imperativo que esta estátua seja removida/derrubada sob a pena de que a população, indignada, a faça.
Aqui em Salvador, assistimos atônitos e paralisados à atitude da Prefeitura que permitiu e a justiça baiana homologou a “Passarela do Apartheid”. Um luxuoso camarote privado que conecta o Morro Ipiranga ao Camarote Glamour. A controvérsia jurídica está se dando sobre a existência ou não da documentação necessária que concede, autoriza e licencia e possibilita a visualização e transparência dos órgãos responsáveis pela instalação, fiscalização, com os respectivos planos de contingência em caso de emergência, etc.
Ora, não se trata somente disso! A passarela aparta e segrega a participação popular devido a um equipamento privado que ocupa o espaço público em benefício de uma minoria rica e branca da cidade. Vários parlamentares da Câmara de Vereadores e da Assembleia Legislativa já se manifestaram a respeito deste e de outros monumentos e instrumentos públicos que selecionam e determinam, de acordo com critérios econômicos e raciais, a ocupação de tais espaços.
Governador, Prefeito! A população não quer essa passarela. Ela dificulta a mobilidade urbana, limita a movimentação das pessoas, fecha ruas e impõe um medo durante o carnaval, desrespeita regras da segurança pública e da acessibilidade. Estamos no momento em que as manifestações populares estão ocorrendo e, como bem disse um grande amigo: “Em qualquer lugar do mundo, essa Passarela já teria sido derrubada!” Mas aqui, disse-lhe: os movimentos sociais não fazem porque estão comendo bola e os que criticam esses movimentos governistas também não fazem, justamente porque não estão comendo bola, ou são poucos, ou já perderam o bonde da história.
Derrubar uma passarela não é mero ato simbólico! Desejo que o Governador e o Prefeito se posicionem sobre este anacronismo arquitetônico. E, antes que alguém discuta as competências, o que estou sugerindo é que as autoridades se exponham e façam a sua parte política-institucional para nos livrar de um equipamento que não condiz com a história e a luta resistente do povo baiano por liberdade, igualdade e justiça.