O ator Fabrício Boliveira deixará saudades pela interpretação positiva de um homem negro com todas as nossas marcas contemporâneas numa novela brasileira.
Com seu personagem Jão, na novela “Volta por Cima”, ele revolucionou a forma como os atores negros representam papéis de homens negros em geral na tela brasileira.
Historicamente, com raras exceções, têm sido relegados a nós papéis violentos, rudes e/ou sem expressão, muitos sem família, e até mesmo quando retratados como da elite,com o roteirista expressando um ideário branco, distante da nossa realidade.
Jão é um personagem completamente diferente. Com maestria, o ator conseguiu construir um homem dócil, amigo e companheiro, que, apesar de ter sido criado sem o amor do pai, tem como grande sonho ser o grande pai que não teve, um personagem que conversa com a realidade da média do homem negro brasileiro.
Essa caracterização é um marco importante na luta contra o racismo e a discriminação na mídia, pois mostra que os atores negros podem interpretar papéis complexos e multifacetados, longe dos estereótipos embutidos em um inconsciente marcado por todas as desgraças que nos acompanham desde que chegamos aqui na condição de escravizados.
A escolha de Fabrício Boliveira para o papel de Jão foi uma decisão ousada e visionária, que certamente será lembrada como um marco na televisão brasileira, não apenas pela sua excelente atuação, mas também pelo roteiro que pode mostrar que atores negros podem, sim,desenvolver papéis em histórias que não sejam apenas sobre a luta contra o racismo, bandidos em favelas ou personagens humorísticos recheados de estereótipos.
A representação de Jão na novela “Volta por Cima” é um exemplo de como a mídia pode ser usada para promover a inclusão e a diversidade, a equidade, mesmo tratando de temas tão caros para nós, como a paternidade responsável.
Ao mostrar um personagem negro como um futuro pai amoroso e dedicado, a novela ajuda a quebrar preconceitos e promove uma visão mais positiva e realista da comunidade negra, que é múltipla também na sua diversidade e nos seus valores como os outros pares da espécie humana.
Jão, um homem negro, de pele retinta, rastafári de mãe solo e de fala e comportamento dóceis, educado, carinhoso e não caricato é simplesmente revolucionário, um marco importante na luta contra o racismo e a discriminação na mídia.
Com sua atuação, Boliveira mostrou que os atores negros podem interpretar papéis complexos e multifacetados, e que a representação positiva e realista da comunidade negra é fundamental para promover a inclusão e a diversidade.