Na 4ª sessão do Fórum Permanente, em Nova York, organizações negras reforçam denúncias, articulam ações e pedem celeridade na implementação de políticas de reparação
Nova York, 17/04 — Chegou ao fim nesta quarta-feira a 4ª sessão do Fórum Permanente da ONU sobre Afrodescendentes, realizada em Nova York desde segunda-feira (14). Com intensa participação de delegações oficiais, ativistas e organizações negras de diversos países, os eventos paralelos se destacaram como espaços fundamentais de articulação política, compartilhamento de boas práticas e proposição de recomendações ao documento final do Fórum — especialmente por parte da sociedade civil organizada.
Enquanto representantes de Estados-membros ocuparam a agenda oficial para apresentar avanços e desafios relacionados à implementação dos compromissos da Conferência de Durban (2001), lideranças da sociedade civil aprofundaram os debates em torno de justiça racial, reparação, monitoramento de compromissos internacionais e combate ao racismo estrutural.

“Queremos mais e com mais rapidez, em tempos de perda de direitos”, afirmou Lucia Xavier, da organização Criola, que acompanhou todo o evento. “Apesar da importância do Fórum como instrumento de enfrentamento ao racismo e promoção da reparação, ainda estamos num estágio de construção de diagnósticos e revisão de mecanismos antigos, como a Década dos Afrodescendentes.”
A crise no Haiti ganhou destaque nas plenárias, com falas contundentes de haitianos que pediram apoio da comunidade internacional, em especial dos países com população majoritariamente afrodescendente e respostas do governo francês. Também houve apelos por maior comprometimento das Nações Unidas com o monitoramento da situação no país caribenho.

Em paralelo ao Fórum, o assessor internacional do Geledés Instituto da Mulher Negra, Gabriel Dantas, destacou a necessidade de articular agendas internacionais que, muitas vezes, são tratadas de forma isolada. “A juventude afrodescendente brasileira tem reforçado a importância de sua participação em temas centrais como justiça climática, paz, segurança e desenvolvimento socioeconômico. Esses espaços devem ser compreendidos como partes complementares de um mesmo ecossistema internacional voltado à promoção integral dos direitos humanos.”
Dantas também sublinhou que os desdobramentos do Fórum devem se refletir de maneira concreta nos principais processos multilaterais globais: “O desafio agora é extrapolar o Fórum e fazer com que suas conclusões sejam incorporadas nos debates sobre política fiscal, desenvolvimento e justiça climática voltados às populações afrodescendentes.”
Entre os eventos paralelos que marcaram a agenda, a BrazilFoundation sediou diversas discussões, entre elas, um painel “Educação antirracista e o papel das políticas públicas”, reunindo especialistas para discutir a intersecção entre escola, território e saberes ancestrais. Para Ednéia Gonçalves, coordenadora executiva da Ação Educativa, é urgente aproximar o universo escolar dos saberes populares e comunitários.
“A escola que reconhece a diferença como potência se vê como incompleta e, para se completar, precisa colocar seus métodos acadêmicos em diálogo horizontal com os saberes que vêm dos territórios, das culturas diversas e da memória ancestral dos estudantes e suas comunidades. O desafio está na intencionalidade pedagógica que valoriza e dá significado ao conhecimento desses grupos.”
A 4ª sessão do Fórum Permanente sobre Afrodescendentes reafirma a importância do protagonismo negro nas decisões multilaterais e aponta o caminho: é preciso mais escuta, mais ação e mais celeridade na construção de um futuro com justiça racial e reparação histórica.