Revista Raça Brasil

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Ficar ou mudar? O dilema das carreiras em tempos de alta rotatividade

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Edvaldo Vieira

Executivo C-Level, com vasta experiência na liderança de pessoas, áreas e unidades de negócios de empresas dos segmentos de saúde, seguro e mercado financeiro.

Entre a estagnação e a mudança excessiva: como construir uma carreira com significado

 

As novas gerações estão deixando claro que não basta ter um emprego, mas é preciso estar em um lugar que permita crescer, ser ouvido e respeitado. Também é necessário existir clareza, propósito, acolhimento e desenvolvimento. Cultura organizacional não é bônus. É base.
E a prova disso é que nos últimos 12 meses, 36% dos trabalhadores com carteira assinada no Brasil mudaram de emprego. Esse é o maior índice já registrado, segundo levantamento da LCA Consultores com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged.
Entre os jovens da geração Z, o movimento é ainda mais expressivo: 40% dos trabalhadores com até 29 anos trocaram de emprego no último ano. Em fevereiro de 2020, esse número era de 26%.
Como gestor acompanhei de perto as transformações do mundo corporativo, e posso dizer que estamos vivendo uma das mais intensas. A forma como as novas gerações encaram o trabalho, claramente mudou. Aliás, o que está mudando também é a forma como todos nós estamos repensando o trabalho, seus significados, seus limites e suas possibilidades.
Esse aumento na rotatividade nos obriga a olhar para algumas verdades incômodas e necessárias. De um lado, o alerta de que as empresas precisam evoluir.
Muitos profissionais estão trocando de emprego porque não encontram espaço para crescer, não se sentem valorizados, ou estão em culturas que priorizam metas acima de pessoas. E quando isso acontece, a mudança vira uma forma de sobrevivência e não apenas de ambição.
Por outro lado, também precisamos conversar sobre o outro extremo: a mudança constante como padrão de carreira. Trocar de emprego pode significar evolução, aprendizado e expansão de repertório. Pode ser um sinal de coragem, adaptabilidade e busca por novos desafios. Mas, quando isso ocorre de forma muito frequente, sem tempo para enraizar, entregar, amadurecer e colher frutos, também pode ser um risco.
Um profissional que muda de empresa a cada 8 ou 10 meses pode acabar não vivenciando a complexidade dos ciclos reais de um negócio. Projetos estratégicos levam tempo. Relacionamentos de confiança levam tempo. Crescimento consistente leva tempo. Sem isso, há o risco de se tornar alguém que sempre começa, mas raramente conclui.
Isso vale para quem permanece muito tempo no mesmo lugar, mas sem evolução, sem novos desafios, sem protagonismo. A permanência, por si só, não é sinônimo de estabilidade — pode ser, inclusive, sinônimo de zona de conforto ou de estagnação disfarçada.
O desafio é o equilíbrio e o ideal é estar em um lugar que nos instigue a ficar. Onde somos desafiados, respeitados, reconhecidos. Onde há espaço para sermos quem somos e para evoluirmos a partir disso.
E para as empresas, o recado é claro: recrutar bem é importante. Reter com propósito, mais ainda.
Se a rotatividade está aumentando, talvez seja hora de parar de culpar os profissionais que saem e começar a entender por que não querem mais ficar.

[Os textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da Revista Raça].

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