Colégio de cardeais reúne representantes de 66 países para escolha do novo Papa e levanta debate sobre racismo, conservadorismo e os caminhos da Igreja Católica
O mundo católico se prepara para um novo conclave sob um cenário inédito: o colégio de cardeais agora reúne representantes de 66 países diferentes, o maior número de nacionalidades da história. Segundo noticiou a Tribuna do Norte, esse recorde de diversidade representa um marco na história da Igreja Católica, que caminha para a escolha do sucessor de Francisco em meio a crescentes demandas por representatividade, enfrentamento ao racismo e equilíbrio entre tradição e renovação.
O conclave está marcado para começar no próximo 7 de maio, na Capela Sistina, no Vaticano. Dos 252 cardeais que compõem o colégio cardinalício, 135 têm direito a voto, por terem menos de 80 anos. A ampla diversidade da composição atual pode abrir espaço para que, pela primeira vez na era moderna, a Igreja escolha um papa negro. Um dos nomes cotados é o cardeal Fridolin Ambongo Besungu, da República Democrática do Congo, conhecido por sua forte atuação pastoral e projeção internacional à frente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM).
Em análise publicada pela Revista Raça, especialistas apontam que a possível eleição de um papa africano responde a uma necessidade estratégica: conter a perda de fiéis para outras religiões, especialmente no continente africano, e simbolizar uma reparação simbólica diante da história de omissão da Igreja em relação à escravidão e ao racismo.
Apesar da possibilidade histórica, Fridolin Besungu é também reconhecido por sua postura conservadora em temas como união homoafetiva e ordenação feminina, o que levanta debates dentro da própria instituição. O La Civiltà Cattolica, jornal jesuíta próximo ao Vaticano, reforça que o próximo papa precisará lidar com uma Igreja tensionada entre demandas progressistas e setores mais tradicionais.
Em artigo também publicado na Revista Raça, destaca-se que o papa Francisco já reconheceu publicamente o racismo como um “vírus que está sempre à espreita”, e buscou, durante seu pontificado, dar visibilidade às periferias e às populações marginalizadas. No entanto, sua sucessão pode representar um ponto de inflexão: consolidar avanços ou recuar diante da pressão por conservar dogmas históricos.
Seja qual for a decisão do conclave, o processo já é simbólico. A presença recorde de cardeais vindos da Ásia, África, América Latina e Oceania indica uma possível mudança na geopolítica do Vaticano.