Por: Bruno Deusdará
Supervisão: Rachel Quintiliano
CPI das Bets: saiba como isso afeta a população negra
Hoje (13/05), houve a primeira sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito relacionada aos sites de apostas, a CPI das Bets. Numa sessão marcada pelo depoimento da influenciadora e empresária Virgínia Fonseca, foram levantadas questões sobre esses sites: como eles operam, por que há tantas casas, como ganham os influenciadores que divulgam esses sites ganham suas comissões. O assunto ganhou repercussão também entre a população negra e pobre, que está entre os principais apostadores.
Uma pesquisa do Instituto Favela Diz revelou que 7 a cada 10 moradores de favelas brasileiras apostam nas bets, seja esportiva ou cassino virtual. Desses, cerca de 86% são jovens adultos, entre os 18 e os 34 anos. Uma pesquisa do Futuro Possível, de 2023, indica que 40% dos apostadores são negros.
Essa lista de dados ilustra um fato: a população negra está perdendo com os sites de apostas, com a cultura do ganho fácil e do prazer que ronda esse cenário.
Segundo os dados, os jovens adultos brasileiros, sobretudo negros e pobres, estão apostando cada vez mais. Apesar da CPI e do novo cenário para as apostas esportivas que começou este ano, com a regulamentação das apostas de quota fixa, ainda não há uma legislação clara em relação a cassinos online que operam livremente, removendo dinheiro da população brasileira. CE, com a aprovação de mais 37 bets para funcionarem no Brasil até 2029, é improvável que vejamos uma melhora nesse cenário.
Como chegamos a isso?
Os sites de apostas, ou as bets, começaram a ganhar força na pandemia. O objetivo era aumentar os pontos de audiência das partidas de futebol, fosse brasileiro, ou estrangeiro, em campeonatos como a Premier League, Bundesliga, Champions League, La Liga, entre outros.
Apesar de ser um mercado em ascensão, movimentando em 2024 cerca de R$240 milhões (de acordo com levantamento do Banco Central denominado “O Panorama das Bets”), se trata de um mercado legalizado, porém não regulamentado, até este ano.
Após a legalização em 2018, não demorou para surgirem casos no futebol brasileiro relacionados à apostas: Bruno Henrique, Ênio, Alef Manga, Paulo Sérgio, Alan Godoy, Sidcley e Eduardo Bauermann. A lista é longa e entre os citados, alguns já cumpriram pena, alguns foram suspensos e voltam logo aos campos, mas nenhum foi banido do esporte. Tivemos até mesmo o caso de Lucas Paquetá, no futebol inglês, com suposto envolvimento em esquemas de aposta, o que o impediu de fechar contratação com o Manchester City.
No entanto, as bets não se limitaram ao jogo esportivo. Logo, começaram a surgir caça-níqueis virtuais, verdadeiros jogos de azar. Hoje, a grande maioria dos influenciadores digitais “mainstream” divulgam esses jogos. E não são apenas eles, mas celebridades de todos os tipos: ex-jogadores de futebol, cantores e streamers. Divulgam para seus seguidores, incluindo pessoas de baixa renda, imersas no ambiente virtual que consomem, apostam.
Uma pesquisa da PWC Strategy do Brasil, apontou que em 2018, as apostas compunham 0,27% do orçamento familiar das classes D e E; ano passado (2024), esse percentual saltou para 1,98%, quase quatro vezes mais do que há cinco anos. Por outro lado, os gastos com lazer e cultura diminuíram de 1,7% para 1,5% do orçamento, enquanto os gastos com alimentação se mantiveram estáveis.
Hoje, não se sabe ao certo quantas empresas relacionadas a apostas existem no país, e mesmo assim, este setor do mercado movimentou cerca de 1% do PIB e comprometeu cerca de 20% do orçamento dos mais pobres, de acordo com um relatório da XP Investimentos.