Revista Raça Brasil

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Estudante de medicina lança livro sobre racismo estrutural na saúde

O estudante francês autor de “A Saúde é Política”, expõe na obra a natureza racista de decisões e rumores que cercam a área da saúde de seu país

 

Miguel Shema, estudante francês do 5º ano de Medicina na Universidade de Iași, Romênia, dedica-se não apenas aos estudos, mas também à luta contra o racismo no atendimento médico. Em seu livro La Santé est Politique (A Saúde é Política), ele expõe como olhares e outros comportamentos viciados e preconceitos raciais afetam o tratamento de pacientes negros e de outras minorias étnicas nos hospitais franceses.

 

A obra é baseada em suas observações durante estágios em hospitais, onde testemunhou casos de discriminação, como o de Naomi Musenga, jovem negra de Estrasburgo que morreu em 2017 após ser ignorada pelo serviço de emergência francês. O caso, que chocou o país, exemplifica a negligência sistêmica enfrentada por pacientes racializados.

 

Miguel Shema atribui esses problemas a vieses cognitivos enraizados, como a Síndrome Mediterrânea – crença de que pacientes do Norte da África exageram sua dor –, conceito que conheceu ao estudar Frantz Fanon, psiquiatra antirracista que já denunciava o racismo médico nos anos 1950.

 

A pandemia de Covid-19 reforçou seu ativismo. Ele critica a estigmatização de moradores de subúrbios parisienses, majoritariamente negros e imigrantes, acusados de propagar o vírus. Essa experiência o levou a criar a página @sante_politique, onde discute desigualdades na saúde.

 

Em seus estágios, Shema documentou como a dor de pacientes negros é frequentemente subestimada, destacando que a avaliação médica não é neutra, mas influenciada por preconceitos sociais. Outro problema é a falta de intérpretes em hospitais, que impede pacientes não francófonos de entender diagnósticos e tratamentos, levando muitos a abandonarem o acompanhamento.

 

Ele defende que a Medicina, ainda marcada por seu passado colonial, deve incorporar ciências sociais e antirracismo em sua formação. Para Shema, ser negro no sistema de saúde significa enfrentar a negrofobia – e é essencial reconhecer esse racismo para combatê-lo.

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