Quantas vezes uma mãe negra vai ter que enterrar o próprio filho para o Brasil entender que isso não é normal?
Mais de 35 mil pessoas negras foram assassinadas em 2023. Trinta e cinco mil vidas que não chegaram em casa. Que não viveram seus sonhos. Que não tiveram a chance de envelhecer.
Segundo o Atlas da Violência, uma pessoa negra tem 2,7 vezes mais chances de ser morta do que uma pessoa não negra no Brasil. Não é coincidência. Não é destino. É racismo estrutural.
O dado é de 2023, mas essa ferida vem de longe. Em 2013, esse risco era de 2,4 vezes. A desigualdade aumentou. O tempo passou, mas os corpos negros seguem tombando — silenciosamente, todos os dias.
Enquanto isso, os avanços são lentos. Leis foram criadas, secretarias inauguradas, discursos bonitos feitos. Mas na prática, a pele preta ainda é vista como ameaça. Ainda é alvo. Ainda morre mais.
É doloroso dizer isso. Mais doloroso ainda é viver.
Quando olhamos esses dados, não estamos falando de estatísticas. Estamos falando de pessoas com nome, com história, com afeto. Gente que amava, sonhava, acreditava. Gente que, muitas vezes, só estava no lugar errado — ou melhor, era visto como errado só por existir.
É preciso dizer com todas as letras: vidas negras importam. Mas enquanto o número de pretos e pardos assassinados for três vezes maior do que o de pessoas brancas, essa frase vai seguir sendo mais um grito do que uma realidade.
Não se trata apenas de segurança. É sobre dignidade. É sobre um país que precisa parar de matar seus filhos — e começar a protegê-los, amá-los, reconhecê-los como humanos.
Enquanto a morte continuar batendo mais nas portas pretas, nenhuma sociedade será justa de verdade.