Revista Raça Brasil

Compartilhe

Um álbum sobre identidade, cura e memória afro-brasileira

“Esse álbum não é sobre religião, é sobre recontar a nossa história”, diz a artista com firmeza e ternura.

Majur não canta apenas com a voz — ela canta com a alma. E agora, ao lançar o tão aguardado “Gira Mundo”, a artista baiana fecha uma trilogia marcada por fé, resistência e amor à própria ancestralidade. O álbum chega no dia 14 de maio, carregado de significado, espiritualidade e um desejo profundo: transformar a escuta em um ato de cura coletiva.

Em conversa com o POPline, no quadro “Tá On”, Majur compartilhou as emoções por trás do projeto. Mais do que um álbum, “Gira Mundo” é um ponto de chegada — e também de partida. “Hoje, com três anos de axé, eu entendi que minha missão vai além de cantar. É sobre recontar a nossa história, com verdade, com coragem”, disse ela.

Três álbuns, uma jornada de transformação

A trilogia nasceu em 2021 com “Ojunifé”, passou por “Arrisca” em 2023, e agora encontra seu desfecho em “Gira Mundo”. Cada trabalho reflete um momento muito pessoal da vida de Majur: o autoconhecimento, o amor e, agora, o reencontro com o propósito.

“Em ‘Ojunifé’, eu estava me reconhecendo, entendendo quem eu era. Em ‘Arrisca’, fui viver intensamente, me joguei na vida, no amor. Já ‘Gira Mundo’ é onde eu me sinto inteira. É onde eu entendo de verdade pra que vim”, compartilha.

Esse reencontro também trouxe solitude. Pela primeira vez, Majur decidiu caminhar só: as 16 faixas são cantadas apenas por ela, sem feats. “Quis viver isso comigo mesma, do meu jeito, do começo ao fim. Esse disco é meu coração batendo pra fora”, confessa.

Um disco que fala de fé, mas também de política, memória e pertencimento

Embora profundamente conectado ao Candomblé, Majur reforça que o álbum não tem como foco a religião. O que ela faz é muito maior: é sobre honrar uma cultura que por muito tempo foi silenciada. “O Candomblé é resistência. Ele foi perseguido, criminalizado. E o que eu quero é mostrar que isso aqui é nosso, é bonito, é potente”, diz.

Com sua musicalidade única, Majur mistura tradição e inovação: traz cantigas em iorubá, instrumentos orquestrais, elementos eletrônicos e um toque pop que emociona sem perder a essência. “É sagrado, mas também é moderno. É um som que respeita as origens e sonha com o futuro”, descreve.

A beleza do que nunca se mostra

Um dos pontos mais tocantes de “Gira Mundo” está no visual: pela primeira vez, Majur abre as portas de um terreiro de Candomblé, com autorização do seu babalorixá. O que ela mostra ali não é o que o preconceito tenta pintar, mas o que de fato se vive: silêncio, natureza, espiritualidade e paz.

“Eu cresci ouvindo mentiras sobre minha fé. Diziam que era coisa do mal. Mas quando você entra num terreiro, você encontra acolhimento, encontra cura. E eu quis mostrar isso. Quis mostrar a verdade com respeito”, diz ela, emocionada.

Um ato de amor — e de resposta

No fim, “Gira Mundo” é Majur em sua forma mais autêntica. É uma mulher preta, forte e sensível, dizendo ao mundo que existe beleza onde tentaram plantar medo. “O Brasil até reconhece que a gente existe, mas ainda insiste em demonizar tudo que é nosso. Eu não podia mais me calar. Esse álbum é minha resposta. É sobre pertencimento, sobre se curar. É sobre amor.”

Publicidade

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?