Revista Raça Brasil

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O impacto do trauma racial nos corpos negros

O trauma racial é uma ferida profunda que não aparece só na mente, mas também no corpo. Ele nasce das violências e exclusões que pessoas negras enfrentam todos os dias – no trabalho, nas escolas, na polícia, na mídia e até nos espaços de saúde. Não é só o ato isolado de racismo que adoece, mas a vivência constante de não pertencimento e ameaça, o medo de não ser aceito, de ser excluído ou violentado simplesmente por existir em um corpo negro.

Esse trauma afeta desde a saúde mental – como ansiedade, depressão e até TEPT – até doenças físicas, como pressão alta, diabetes e problemas cardíacos, tudo isso intensificado pelo estresse crônico que o racismo impõe. O corpo negro aprende a estar sempre em alerta, como se vivesse em guerra, com o “alarme ligado”, mesmo sem fumaça. Isso desgasta.

Além disso, o acesso aos serviços de saúde é desigual. Muitos profissionais, sem preparo adequado, não reconhecem o racismo como causa de sofrimento, o que leva a diagnósticos errados ou à ausência total de cuidado. Isso afasta ainda mais quem precisa de acolhimento e tratamento.

A psicóloga Jeane Tavares e outros pensadores como Frantz Fanon, Cida Bento e Sueli Carneiro reforçam que é urgente romper com a lógica racista, tanto nos espaços sociais quanto dentro das instituições de saúde. O cuidado precisa considerar a história, a identidade e a dor do povo negro. Não basta tratar sintomas: é preciso escutar, acolher, respeitar, garantir acesso e valorizar os saberes e a ancestralidade da população negra.

Para isso, o SUS e os CAPS devem incluir o racismo como fator real de adoecimento. É preciso formar profissionais com olhar antirracista, ampliar o cuidado nos territórios periféricos, quilombolas e indígenas, e reconhecer as práticas de cura que vêm da vivência e resistência do povo negro.

Porque só assim o corpo negro poderá, enfim, descansar e existir com saúde e dignidade.

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