Em 2025, o mundo para por um instante para lembrar. Cem anos se passaram desde o nascimento de Malcolm X. Sessenta desde sua morte trágica. Mas ainda hoje, seu nome provoca, inspira e resiste.
Malcolm X não foi um homem fácil de rotular. Ele foi mais do que um ativista. Foi um filho marcado pelo luto, um jovem quebrado pelo sistema, um homem em constante transformação. Ele foi ferido, forjado no fogo do racismo, e ainda assim escolheu levantar a voz — não só por si, mas por todo um povo.
Nascido Malcolm Little, em 19 de maio de 1925, em uma América brutalmente segregada, viveu desde cedo a perda e o abandono. Seu pai, morto em circunstâncias suspeitas. Sua mãe, internada após um colapso nervoso. Ele, arrancado de casa e levado ao sistema estatal. Cresceu escutando que sonhos não eram feitos para gente como ele. E acreditou, por um tempo.
Na prisão, encontrou os livros. Encontrou ideias. Encontrou fé. Ali, começou a escrever uma nova história. Deu adeus ao nome que lhe foi imposto e escolheu ser Malcolm X — o “X” que simbolizava tudo o que lhe foi tirado, tudo o que ele prometeu resgatar.
Sua voz, afiada e urgente, rapidamente ecoou pelos Estados Unidos. Ele denunciava a violência contra os negros, exigia direitos com a firmeza de quem já tinha perdido demais. Não falava para agradar. Falava para libertar. “Por quaisquer meios necessários”, dizia.
Por isso, durante muito tempo, o compararam a Martin Luther King Jr. como se fossem opostos. Um, o pacifista. O outro, o radical. Mas essa dicotomia não explica quem Malcolm realmente foi. Porque ele também mudou. Em 1964, ao ir a Meca, se deparou com uma fé vivida por pessoas de todas as cores. E ali, seu coração se abriu. Deixou o discurso separatista, se reconectou com a humanidade, e passou a lutar por justiça como um direito universal.
Rompeu com antigos aliados, fundou novas organizações e passou a falar com o mundo. Mas essa coragem custou caro. No dia 21 de fevereiro de 1965, foi assassinado diante da esposa — grávida de gêmeas — e de suas filhas. Tinha só 39 anos. Uma vida interrompida, mas nunca silenciada.
Malcolm virou semente. E dessa semente nasceu o orgulho negro, o Black Power, o direito de dizer “sou negro e me orgulho disso”. Palavras como “Afro-americano” e “preto” tomaram o lugar de rótulos impostos. Sua história continua sendo contada por gerações que seguem lutando.
Hoje, mesmo sem um feriado nacional em sua homenagem, algumas cidades dos Estados Unidos celebram o Dia de Malcolm X. E neste centenário, em 2025, sua memória ganha nova luz. Filmes, livros, encontros e homenagens não tentam mais reduzi-lo a um rótulo — mas compreendê-lo em sua inteireza.
Porque Malcolm foi mais do que um homem. Ele foi coragem. Foi mudança. Foi amor próprio em um mundo que ensinava o oposto.
E por isso, mesmo após um século, sua voz ainda não se calou.