Olhar para os tribunais brasileiros é perceber, com clareza, o abismo que ainda separa brancos e negros nos espaços de poder. Em um país onde quase 60% da população se declara negra, menos de 15% dos magistrados compartilham dessa identidade. A conta não fecha. E mais do que números, isso revela uma ferida antiga: a exclusão sistemática de pessoas negras das decisões que moldam a sociedade.
Ser juiz no Brasil exige tempo, dinheiro, estrutura e apoio. Exige poder se dedicar por anos à preparação, aos cursos caros, aos livros inacessíveis. Exige, muitas vezes, o que boa parte da população negra nunca teve: herança, rede de contatos, estabilidade. E mesmo com políticas de cotas há mais de uma década, os rostos que ocupam os tribunais continuam sendo, majoritariamente, os mesmos.
Mas e se essa realidade pudesse mudar?
Uma iniciativa que une o Supremo Tribunal Federal, a Universidade Zumbi dos Palmares, a Fundação Getúlio Vargas e empresários de todo o país tem mostrado que é possível começar a reescrever essa história. A proposta é simples, mas poderosa: financiar a formação de futuros juízes negros, oferecendo aquilo que sempre lhes foi negado – oportunidade justa.
Na última quarta-feira, 22 de maio, mais um passo foi dado nessa direção. O presidente do iFood, Diego Barreto, e sua esposa, Carol Nomura, reuniram em sua casa líderes empresariais comprometidos com essa causa. Foi um gesto de solidariedade, mas também de responsabilidade – porque transformar o Brasil em um país mais justo e representativo é uma missão coletiva.
Sozinhos, os negros seguem enfrentando uma jornada marcada por obstáculos. Mas com apoio real e intencional, o caminho pode ser mais leve, mais curto, mais justo.
E talvez, num futuro não tão distante, a Justiça finalmente tenha o rosto do Brasil.