Revista Raça Brasil

Compartilhe

Edinho Santos e Letícia Calvosa, casal que estrela a peça

Amor preto e afeto cotidiano são protagonistas no espetáculo “OZ”

Peça bilíngue com atores negros e surdos apresenta uma nova narrativa sobre amor e família, fora das normas tradicionais

 

A companhia Aquilombamento Ficha Preta estreia seu novo espetáculo “OZ” com uma proposta ousada e delicada: mostrar que o amor, em todas as suas formas, pode ser também um ato político e um espaço de reconstrução. A temporada vai de 21 de maio a 26 de junho, sempre às quartas e quintas-feiras, às 21h, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. 

Dirigida por Rodrigo França e Tainara Cerqueira, e com dramaturgia de Aline Mohamad, a peça é falada em português e em Libras. No centro da cena está um casal negro — formado pelo ator e slamer surdo Edinho Santos e pela atriz Letícia Calvosa — que transforma o ato de cozinhar em gesto de ternura, memória e resistência.

“Para o povo preto, a cozinha não é só lugar de serviço, é também de confraternização e afeto. Por isso, valorizamos uma mesa farta, cheia de delícias para compartilhar”, explica a codiretora Tainara Cerqueira. O cenário e o figurino refletem essa atmosfera acolhedora de maneira lúdica, com cores vivas que evocam um lar onde o afeto se manifesta em cada detalhe.

 

Edinho Santos e Letícia Calvosa, casal que estrela a peça
Edinho Santos e Letícia Calvosa, casal que estrela a peça

Inspirado em experiências pessoais da autora, “OZ” nasceu a partir da memória de uma tia surda, Zeneb, que nunca viveu plenamente sua sexualidade. “Ela era colocada numa redoma, e percebi como as possibilidades de amar são cerceadas a depender dos corpos. A peça é um convite para pensarmos outros amores possíveis”, diz Aline Mohamad.

A encenação busca romper com os moldes tradicionais do que é considerado amor legítimo. Ao contrário das tramas centradas na dor, “OZ” aposta na doçura, na simplicidade dos gestos e na ancestralidade como força estruturante. O público é, inclusive, convidado a partilhar um café com bolo de cenoura durante a apresentação — um ritual que ativa memórias afetivas e evoca o cuidado coletivo.

“Queremos apresentar uma nova lógica de relações, que fogem à estrutura patriarcal e se alinham a uma perspectiva decolonial. Para nós, isso é resistência”, afirma Rodrigo França. “OZ” é mais que uma peça: é um manifesto sensível sobre o direito ao amor em sua plenitude.

Publicidade

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?