Quais povos africanos vieram durante o tráfico negreiro? Quem migra hoje? Uma análise histórica e contemporânea sobre raízes culturais, racismo e construção de comunidade
Entre os séculos XVI e XIX, cerca de 4,8 milhões de africanos foram trazidos forçadamente ao Brasil, a maioria proveniente de duas regiões: Angola (43%) e o Golfo do Benin (atual Nigéria, Benim e Togo), que respondia por 31% do total 515. Grupos étnicos como os bantos (de Angola e Congo) e os iorubás (da Nigéria) deixaram marcas profundas na língua, religião e música brasileiras (os dados são da Transatlantic Slave Trade Database). Navios conhecidos como tumbeiros transportavam pessoas em condições desumanas, com rotas concentradas em portos como Luanda e São Jorge da Mina.
A herança dos povos iorubás se manifesta no Candomblé, nas festas de Iemanjá e no samba, enquanto os bantos influenciaram a capoeira e a culinária, como a feijoada. Comunidades como Cafundó, em Salto de Pirapora (SP), preservam até hoje dialetos de origem banto, como o cupópia, documentado por pesquisadores como Carlos Vogt e Robert Slenes.
Atualmente, cerca de 35 mil africanos residem no Brasil, com destaque para angolanos (8 mil), senegaleses (4,5 mil) e congoleses (2,3 mil). Muitos chegam atraídos por laços linguísticos (no caso de Angola) ou pela imagem do Brasil como potência econômica, mas enfrentam empregos precários e xenofobia. De acordo com dados, a Lei de Migração de 2017 trouxe avanços, mas persistem denúncias de trabalho análogo à escravidão.
Enquanto no período colonial a migração era forçada e centrada em África Ocidental e Central, hoje inclui países como Gana e Guiné, com motivações econômicas e conflitos locais. A presença de imigrantes de Moçambique (1,2 mil) reflete também laços pós-coloniais, já que empresas brasileiras atuam no setor de mineração daquele país.
Organizações como a Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) pressionam por políticas que valorizem a diáspora. Em 2023, o governo federal reconheceu oficialmente 32 comunidades quilombolas com raízes angolanas, um passo simbólico para reparar séculos de apagamento. Apesar dos avanços, o racismo persiste: negros representam 56% da população, mas apenas 4,7% dos cargos executivos.