Revista Raça Brasil

Compartilhe

Alcione (Foto: Instagram)

“Oficialmente, sou cidadã baiana”, diz Alcione ao receber o título em Salvador

Cerimônia na ALBA reconhece trajetória da cantora, símbolo do samba e da ancestralidade negra, por sua ligação histórica com a música e a identidade baiana

 

Nesta segunda-feira (26), a cantora Alcione, de 77 anos, foi agraciada com o título de Cidadã Baiana em sessão solene na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), em Salvador. A honraria, proposta pela deputada Olívia Santana (PCdoB) e aprovada por unanimidade, é a mais alta concedida pelo parlamento estadual e reconhece não apenas o talento da artista, mas sua profunda conexão com a cultura baiana. Natural de São Luís do Maranhão, Alcione — carinhosamente chamada de “Marrom” — emocionou-se ao declarar: “Oficialmente, sou cidadã baiana, mas sempre me considerei daqui e de vocês”. A cerimônia reuniu personalidades como a ministra Margareth Menezes, a cantora Ivete Sangalo e lideranças culturais como Vovô do Ilê.

 

Com uma carreira iniciada aos nove anos, Alcione consolidou-se como uma das principais intérpretes do samba brasileiro, gravando composições de ícones baianos como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Walmir Lima. Sua versão de “Ilha da Maré” (1977), do compositor baiano Walmir Lima, tornou-se um hino da cultura popular, celebrando a Lavagem do Bonfim e a identidade local. Além de cantora, é trompetista e clarinetista, habilidades herdadas do pai, o maestro João Carlos Dias Nazareth, regente da banda militar do Maranhão. Sua trajetória entrelaça-se com a Bahia desde os anos 1970, quando passou a incluir no repertório obras que exaltam a ancestralidade negra e grupos como Ilê Aiyê e Olodum.

 

Os motivos para a homenagem vão além da música. Como destacou Olívia Santana, Alcione é um “símbolo da resistência da mulher negra” e um elo entre as culturas maranhense e baiana. A deputada ressaltou que a artista “canta a Bahia, exalta nossa ancestralidade e fortalece a cultura pelo mundo”. Edil Pacheco, compositor presente na cerimônia, definiu-a como “um patrimônio do Brasil”, lembrando sua defesa da democracia e sua capacidade de transformar canções locais em sucessos nacionais. A presidente da ALBA, Ivana Bastos, reforçou: “Ela já era espiritualmente baiana há décadas, desde que gravou ‘Aruandê’ em 1975”.

 

Para além do título, a homenagem reflete a importância de Alcione na preservação da memória cultural brasileira. Na véspera da cerimônia, ela emocionou o público ao interpretar “Onde o Rio é mais baiano”, de Caetano Veloso, na Concha Acústica de Salvador — um gesto que sintetiza sua relação afetiva com o estado. Sua trajetória, marcada pela valorização de compositores negros e pela difusão de ritmos afro-brasileiros, consolida-a como voz essencial na luta contra o apagamento cultural. Como lembrou Olívia Santana: “O que seria do Brasil sem o samba e sem a voz ancestral de Alcione?”.

Publicidade

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?