Revista Raça Brasil

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Viola Davis desabafa sobre arrependimento em ‘Histórias Cruzadas

Às vezes, um grande papel pode deixar cicatrizes. E foi exatamente isso que aconteceu com Viola Davis, uma das maiores atrizes da atualidade, ao falar sobre sua participação no filme Histórias Cruzadas.

O longa foi um dos grandes destaques do Oscar em 2012. Recebeu quatro indicações, encantou plateias ao redor do mundo e rendeu à atriz Octavia Spencer o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante. Mas, por trás de todo o prestígio, existe uma ferida que, mesmo com o tempo, ainda dói para Viola.

“Sim, me arrependi de ter feito”, confessou em entrevista. “Não pela equipe, nem pelas atrizes maravilhosas com quem trabalhei. Mas porque, no fundo, senti que a história não foi realmente contada por quem viveu aquilo.

Uma dor que vem da raiz

Histórias Cruzadas se passa nos anos 1960, em pleno movimento pelos direitos civis nos EUA. A história acompanha uma jovem jornalista branca que decide escrever um livro sobre empregadas negras que cuidam das casas e dos filhos de famílias brancas. Viola interpreta Aibileen, uma dessas mulheres.

Mas, mesmo sendo uma das personagens centrais, Viola sentiu que as vozes das empregadas — mulheres como sua avó, sua mãe, suas raízes — foram abafadas.

“Quando você faz um filme que diz: ‘Quero mostrar como era ser uma mulher negra cuidando dos filhos de brancos em 1963’, a pergunta é: o que essas mulheres realmente sentiam? E isso não apareceu na tela.”

Ela não estava sozinha nesse incômodo. Já na época do lançamento, o filme recebeu críticas por adotar a perspectiva do “salvador branco”, colocando uma personagem branca como protagonista de uma história que deveria ser sobre as mulheres negras. Até a babá da vida real que teria inspirado a personagem de Viola chegou a entrar com um processo, dizendo que sua imagem foi usada sem autorização e de forma vergonhosa.

“Foi feito para agradar os brancos”

Com o passar dos anos, o sentimento de arrependimento só cresceu. Em 2020, Viola voltou a tocar no assunto, com ainda mais clareza:

“Esse filme foi feito dentro do filtro do racismo sistêmico. Ele fala sobre ser negro, mas foi criado para o público branco. E isso me fez sentir que, de certa forma, eu traí quem eu sou e o povo de onde vim.

Palavras duras. E corajosas.

Ainda assim, ela fez questão de dizer que tem profundo carinho pelas atrizes com quem contracenou e por toda a equipe do filme. Mas a pergunta que fica no ar é sincera e necessária:
Será que o mundo estava (ou está) mesmo pronto para ouvir a verdade de quem viveu na pele a dor do preconceito?

Quando o sucesso não é suficiente

A fala de Viola nos lembra de algo muito importante: nem toda conquista traz orgulho. Às vezes, o brilho de um papel não compensa o peso de perceber que aquela história poderia — e deveria — ter sido contada de outra forma.

A também atriz Bryce Dallas Howard, que participou do filme, reconheceu isso em um post emocionante:

“Foi uma história contada pela ótica de uma personagem branca, criada por uma equipe majoritariamente branca. Podemos — e devemos — ir além.”

Essa história não é apenas sobre cinema. Ela é sobre escuta. Sobre coragem. E sobre o poder de reconhecer quando algo, por mais bonito que pareça por fora, não foi justo com quem mais precisava ser ouvido.

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