Espalhados por diversas regiões do Brasil, cemitérios de pessoas escravizadas revelam capítulos ocultos da história nacional e reforçam a importância da preservação da memória negra
Embaixo do chão que pisamos, há histórias que ainda lutam para emergir. Os cemitérios de pessoas escravizadas espalhados pelo Brasil são testemunhos silenciosos de um passado brutal que moldou as estruturas sociais do país. Por muito tempo ignorados, esquecidos ou propositalmente ocultados, esses locais guardam os corpos — e as memórias — de milhares de homens, mulheres e crianças que foram vítimas do sistema escravocrata.
Reconhecer e preservar esses espaços é um ato de reparação, de enfrentamento ao apagamento histórico e de afirmação da presença negra na formação do Brasil.
A redescoberta desses cemitérios, muitas vezes feita por acaso em obras urbanas ou pela insistência de pesquisadores e movimentos sociais, revela não apenas vestígios físicos, mas também a urgência de recontar a história negra com justiça e dignidade. Mais do que sítios arqueológicos, esses lugares são territórios sagrados de memória, resistência e ancestralidade.
1. Cemitério dos Pretos Novos (Rio de Janeiro – RJ)
- Local: Gamboa, região portuária do Rio de Janeiro
- Histórico: Descoberto em 1996 durante reformas em uma residência. Ali eram enterrados os africanos que morriam ao chegar do tráfico transatlântico, no século XVIII.
- Importância: É considerado o maior cemitério de africanos escravizados das Américas.
- Hoje: Sede do Instituto dos Pretos Novos (IPN) e centro de memória com visitas guiadas, exposições e pesquisas.
2. Cemitério dos Escravizados do Engenho da Conceição (Jaboatão dos Guararapes – PE)
- Histórico: Fica nos arredores da Igreja da Conceição, onde havia um engenho colonial. Restos mortais de pessoas escravizadas foram encontrados em escavações arqueológicas.
- Hoje: O local passou a ser estudado e incluído em roteiros educativos e turísticos sobre a memória afrobrasileira.
3. Cemitério dos Escravos da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (diversas cidades)
- Igrejas como essa, erguidas por irmandades negras em cidades como Ouro Preto (MG), Sabará (MG), Recife (PE) e outras, geralmente possuíam sepulturas coletivas ou cemitérios anexos para os membros da comunidade negra — incluindo escravizados e libertos.
Outros locais de memória em investigação ou reconhecimento recente:
- Cachoeira (BA): sítios arqueológicos ligados à escravidão rural e urbana.
- Belo Horizonte (MG): ossadas de escravizados já foram encontradas na região do bairro Santa Efigênia.