Em um guia prático e potente, a jornalista baiana Midiã Noelle mostra que comunicar com consciência racial é urgente e possível
A nossa escrita é atravessada pelo corpo e pela vivência. Antes a gente não sabia o nome disso, mas Conceição Evaristo nomeou: escrevivência. É nesse caminho que Midiã Noelle, jornalista, mulher negra, baiana do território da Liberdade em Salvador, nos entrega Comunicação Antirracista — um livro que é, ao mesmo tempo, guia prático, estudo, manifesto e espelho.
Sou leitora voraz de não-ficção. E tenho um carinho especial pelos livros que se posicionam, que trazem a autora para o centro da narrativa e deixam claro por que ela escreve, de onde ela escreve, por quem ela escreve. Midiã faz isso com maestria. E faz mais: transforma sua trajetória em método, seu percurso em ferramenta.
Para quem comunica — especialmente jornalistas, assessoras, produtoras de conteúdo, equipes de marketing — negros e não-negros o livro é um chamado. Um convite à responsabilidade. Um lembrete de que a linguagem nunca é neutra e que, quando reproduzimos estereótipos ou apagamos experiências racializadas, estamos tomando partido. Mesmo que não seja intencional.
São 192 páginas divididas em 8 capítulos, que vão desde apresnetar a comunicação como um legado familiar, até “comunicação antirracista na prática”, passando também pela análise de casos recentes emblemáticos, como o da campanha “Coalização por um aministra negra no STF” passando pelo caso do ex-ministro da pasta de Direitos Humanos, Silvio Almeida.
Ao longo das páginas, Midiã compartilha vivências pessoais e profissionais que revelam as armadilhas da branquitude nas redações, as microviolências das agências, o silenciamento das vozes negras nas grandes coberturas. Mas ela não para aí: propõe caminhos, sugere abordagens, aponta perguntas que precisam ser feitas antes de cada pauta, cada post, cada campanha.
Sua escrita é leve, direta e contundente. E o tempo todo sentimos que estamos em boa companhia — aprendendo com quem conhece a dureza do tema e, ainda assim, escreve com afeto.
Como mulher negra e comunicadora, me sinto representada e também provocada. Porque o livro acolhe, mobiliza, ensina e transforma
Comunicação Antirracista é, como diz o subtítulo, um “guia prático para uma comunicação mais responsável, representativa e inclusiva”. É também uma peça de resistência, uma aula de jornalismo ético e um lembrete da potência que é escrever a partir de si mesma, sem concessões.
Para quem já está na luta por uma mídia mais justa, o livro é uma ferramenta. Para quem ainda não se deu conta dos filtros raciais que atravessam o modo como nos comunicamos, é uma porta de entrada.
Eu tenho um orgulho danado dessa obr, no lançamento em São Paulo, quando tive a oportunidade de mediar o debate entre a autora e o público presente, sem pudor, ousei dizer que o livro deveria estar nas salas de aulas das universidades de comunicação.
Eu me realizo na escrita de Midiã. E espero, sinceramente, que mais e mais pessoas possam aprender com ela — e se transformar no processo de comunicar.
Título: Comunicação Antirracista: um guia prático para uma comunicação mais responsável, representativa e inclusiva
Autora: Midiã Noelle
Número de páginas: 192