O assassinato do jovem negro Herus Guimarães Mendes, pelo BOPE (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro), quando participava, juntamente com seus familiares de uma festa junina, no morro do São João (RJ), escancara um crime de estado que está virando rotina.
Herus era apenas um jovem negro, pobre e trabalhador, morador da periferia. Era office boy de uma imobiliária e deixa um filho de dois anos órfão.
A ação premeditada contra pretos e pobres em bairros periféricos sob o argumento de combate ao tráfico, transformou-se numa prática policial no Brasil. O modus operandi não difere em nada dos atos terroristas que são praticados mundo afora.
O alvo ou os alvos, têm sido invariavelmente jovens e crianças, invariavelmente pretas e pobres. No caso do morro São João a situação foi gritante. Os meninos e meninas estavam brincando, participando de uma festa, não havia nenhum sinal de traficantes.
Todo mundo era inocente.
Ainda assim foram cercados e alvos de tiros mortais, exatamente por aqueles que deveriam lhes proteger. Do mesmo modo que está ocorrendo em Gaza.
Cadê a inteligência da Polícia, cadê a tecnologia, cadê a inteligência artificial. Nada disso funcionou, afinal eram pretos e pobres, daí a polícia tem licença para matar.
Não houve nenhum tiroteio, nenhum ataque de traficantes, nada. Mas, ainda assim, cinco jovens foram gravemente feridos e um deles morto, com tiro de fuzil que atravessou o seu corpo de lado a lado.
É isso que os policiais chamam de “auto de resistência”.
O relato da mãe de Herus foi comovente e revelador do grau de brutalidade com que os policiais estão adentrando a essas comunidades.
“O policial arrastou o meu filho pela escada e gritou que meu filho era vigia [do tráfico]. Botou uma grade para ninguém socorrer o meu filho. Quando levamos o Herus para o carro, eles ainda debocharam”
Além de terem assassinado um jovem inocente, os policiais fizeram chacota com a mãe do garoto, não permitiram o socorro e ainda o arrastaram morro abaixo como se fosse um saco de lixo, deixando o seu corpo irreconhecível.
Isso se chama vilipêndio de cadáver e também é crime. Vilipêndio, nesse contexto, significa desrespeitar, ridicularizar ou ofender o corpo de uma pessoa morta. E foi exatamente isso que os policiais do BOPE fizeram.
O mais grave de tudo isso é que esse não é um comportamento isolado da PM do Rio de Janeiro, tem sido um procedimento padrão, seja no Rio, São Paulo, Bahia ou qualquer outro estado do país.
As forças de segurança, pagas pelo povo e que deveriam estar a serviço do povo, estão se transformando em verdadeiras milícias, descumprindo de forma reiterada e escancarada a legislação penal brasileira, condenando e matando aleatoriamente todos aqueles que são considerados “marginais”.
E com o estereótipo de que “bandido bom é bandido morto” ou de que estão combatendo o tráfico de drogas, os policiais tem promovido um verdadeiro genocídio da juventude negra brasileira, além de estimular que grupos de extermínio ajam do mesmo modo.
Diante da comoção causada pelo massacre do BOPE no morro São João, e da repercussão negativa nos veículos de comunicação, o Governo do Rio resolveu afastar os comandantes das operações especiais, assim como do BOPE e os policiais que participaram da operação. Sem anunciar qualquer responsabilização dos mesmos pelos crimes cometidos.
Isso não adianta nada. É meramente protocolar. O que precisa mudar são os métodos. Preto e pobre não podem continuar sendo as vítimas do tiro ao alvo, seja da polícia ou dos bandidos.
Os números são assustadores. Nos últimos dez anos, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), 445.442 eram pretos ou pardos, foram assassinados no país. Corresponde a 73% dos homicídios ocorridos em todo o país
O nome disso é genocídio. Portanto, é preciso dar um basta nessa situação.
Toca a zabumba que a terra é nossa!