Violência estrutural, exclusão política e desigualdade racial ainda marcam a vida de mulheres negras trans, mas lideranças emergem e redesenham o presente e o futuro do país
A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil. A estatística revela a gravidade das violações de direitos contra a população negra no país e aponta para um cenário alarmante de genocídio em curso. No mês do Orgulho LGBTQIAPN+, chama atenção uma face ainda mais cruel dessa violência: a realidade vivida por mulheres negras trans.
Quando raça, identidade de gênero e classe se cruzam, multiplicam-se as camadas de opressão. Dados divulgados pela Agência Brasil em janeiro de 2025 apontam que 70,14% das mulheres negras trans entrevistadas relataram ter sofrido simultaneamente racismo e transfobia — evidência de uma exclusão estrutural persistente, muitas vezes ignorada nos debates públicos.
Nem mesmo quem ocupa cargos de representação política escapa dos ataques. Parlamentares negras trans são alvos frequentes de campanhas de ódio, ameaças e tentativas de silenciamento. A presença dessas mulheres nos espaços de poder ainda é lida como incômoda e subversiva por setores diversos setores da sociedade.
As informações da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) são ainda mais preocupantes. Segundo a organização, as vítimas de assassinatos são, em sua maioria, “jovens trans negras, empobrecidas, nordestinas e assassinadas em espaços públicos, com requintes de crueldade”. Em 2024, entre os 86 casos em que foi possível determinar a raça/cor das vítimas, 78% eram pessoas trans negras — número que reforça a desigualdade racial nos dados de violência contra a população trans.
Apesar das estatísticas alarmantes, há vozes que resistem, criam e lideram novos caminhos. Mulheres negras trans seguem desafiando o sistema com arte, política, pensamento crítico e inovação. Em meio a um cenário de exclusão, elas também representam potência, criatividade e transformação.
Conheça três mulheres negras trans que estão ajudando a mudar o Brasil:
Erika Hilton – Deputada federal por São Paulo, Erika foi a primeira mulher trans negra a ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados. Sua atuação é voltada para os direitos humanos, justiça social, combate à violência de gênero e à LGBTfobia institucional.
Neon Cunha – Mulher negra, trans e intersexo, Neon é referência na luta por direitos humanos, justiça decolonial e antirracismo. Combina ativismo, performance e pensamento crítico para denunciar a exclusão e afirmar outras possibilidades de existência.
Jup do Bairro – Cantora, compositora e performer, Jup se destaca na cena musical brasileira por abordar temas como corpo, gênero, negritude e resistência. Com forte ligação estética com o Nordeste, apresenta uma arte engajada e provocadora. Foi apresentadora do programa TransMissão, ampliando a visibilidade de pessoas trans na TV brasileira.