Revista Raça Brasil

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Djamila Ribeiro e o caminho do feminismo negro

Djamila Ribeiro retorna a Santos, cidade que carrega no coração, para gravar um documentário sobre sua trajetória — mas é impossível falar sobre sua história sem tocar na luta coletiva que a moldou. Filha de um ativista do movimento negro e de uma mãe envolvida com a cultura afro-brasileira, ela cresceu em uma casa onde a consciência racial não era uma escolha, era um chamado.

A partir dessa vivência, Djamila se tornou uma das principais vozes do feminismo negro no Brasil. Mas ela faz questão de lembrar: essa luta não é nova, tampouco individual. Ela é fruto de gerações de mulheres negras que resistiram antes dela — e que abrem caminhos ainda hoje.

Ao falar sobre o feminismo negro, Djamila deixa claro que não se trata de separar ou dividir. Pelo contrário. “Quando falamos de feminismo negro, estamos ampliando o debate”, afirma. Essa ampliação vem da necessidade de incluir todas as mulheres: negras, brancas, indígenas, pobres, periféricas. Mulheres com múltiplas vivências, marcadas por opressões que se cruzam — de raça, de classe, de gênero.

E é por isso que, segundo ela, o feminismo precisa ser antirracista, precisa olhar para além dos privilégios de uma parcela específica. “Se existem mulheres negras e pobres, o feminismo precisa lutar por elas também. Caso contrário, deixa de cumprir seu papel.”

Essa visão atravessa também a forma como ela enxerga a educação. Para Djamila, transformar o país começa na sala de aula. A educação precisa romper com o silêncio histórico sobre o racismo. Precisa formar cidadãos que saibam que o racismo é estrutural, que vem de séculos de escravidão, e que só pode ser combatido com consciência e ação. “Não é um problema individual. Estamos falando de uma estrutura”, reforça.

Escritora, filósofa, pesquisadora — ocupar esses espaços sendo uma mulher negra é, sim, motivo de orgulho, mas também de responsabilidade. Djamila sabe que sua presença incomoda, mas ela não está ali sozinha. Está com todas as mulheres que vieram antes, com aquelas que escreveram, protestaram e resistiram para que outras pudessem chegar. “A luta é maior do que todas nós.”

E é a partir dessa consciência que ela fala com as mais jovens. Para as meninas negras que querem escrever, publicar, fazer a diferença, ela dá um conselho direto: “Estude. Conheça quem veio antes. Entenda a história do Brasil. Só assim saberemos como levar essa história adiante.”

Na política, ela reconhece que ainda somos poucas. A presença de mulheres negras nesses espaços é insuficiente, mas poderosa. Porque quando elas chegam, trazem consigo um novo olhar sobre o mundo — um olhar mais justo, mais atento, mais sensível. Um olhar forjado na experiência e na coletividade.

Com firmeza e doçura, Djamila nos lembra que a luta não começou com ela, nem termina nela. Que o feminismo negro é um convite à escuta, à empatia e à transformação. E que, no fim das contas, ele não exclui — ele amplia. Porque lutar por todas as mulheres é, antes de tudo, um ato de amor.

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