Revista Raça Brasil

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Toda Mãe meio Raquel

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Hamalli Alcântara

Vice-presidente do Grupo Raça Comunicações. Responsável pelo processo de criação, realização e edição da Revista Raça Brasil. Administra os recursos técnicos, artísticos e administrativos dos principais projetos do Grupo Raça Brasil: Revista, Área Digital e Fórum Brasil Diverso.

Taís Araújo tem vivido a personagem Raquel Accioli na reexibição de Vale Tudo e muitos olhos se voltaram para a potência de sua personagem. Mas para muitas mulheres negras, especialmente mães, Raquel não é apenas um papel marcante da teledramaturgia brasileira, ela é um espelho. Um reflexo duro, bonito e real das jornadas que tantas atravessam silenciosamente todos os dias. Porque, no fundo, toda mãe é um pouco Raquel. E toda mãe negra, talvez, seja muito.

Raquel é aquela mãe solo, mulher que trabalha dobrado, que carrega o peso da responsabilidade nas costas e o amor pelos filhos no coração. Ela representa a mulher que, mesmo sem muitos recursos, transforma o pouco em tudo como fazem tantas mães negras em um país marcado pela desigualdade, pelo racismo estrutural e pela ausência do Estado nas periferias.

Vinda de uma realidade de privações, Raquel é a mãe que madruga para pegar dois ônibus e chegar ao trabalho; que faz bico para completar a renda; que cozinha, limpa, cuida dos filhos e ainda sorri — não porque está tudo bem, mas porque ela se recusa a deixar a dureza da vida roubar dela a dignidade e a esperança. Ela é aquela que, como tantas outras, abre mão de si para garantir o futuro dos seus. Mães que não tiram férias, não têm plano B, nem rede de apoio. Que muitas vezes criam os filhos sozinhas, enfrentando o abandono, o preconceito e o cansaço que nunca se permite assumir.

E ainda assim, há beleza na força silenciosa dessas mulheres. Raquel, assim como tantas mães negras, é a força que resiste. Ela ensina que a ética importa, que o caráter vale mais que qualquer status e que a dignidade não se negocia. Mas quantas vezes essas mães têm o reconhecimento que merecem? Quantas vezes seus filhos, já adultos, se dão conta de tudo o que foi feito, do quanto foi aberto mão para que eles pudessem ir além?

O Brasil tem milhões de Raquéis. Mulheres negras que sustentam lares, constroem futuros e carregam no corpo e na alma as marcas da luta. Elas não vestem figurinos de novela, mas seus passos são igualmente dramáticos, intensos, reais.

E talvez este seja o momento de olharmos para essas Raquéis ao nosso redor com mais atenção. De reconhecê-las, escutá-las, agradecê-las. Porque enquanto muitas novelas acabam, a história dessas mulheres continua — viva, pulsante, e muitas vezes invisível.

Toda mãe é meio Raquel. Mas toda mãe negra… talvez seja Raquel inteira.

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