Revista Raça Brasil

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Augustus Tolton: o menino que fugiu da escravidão e agora caminha para os altares

No dia em que os Estados Unidos celebram o Juneteenth — data que marca o fim oficial da escravidão no país —, uma história ecoa com ainda mais força: a de Augustus Tolton, o menino que nasceu escravizado e que hoje caminha para se tornar o primeiro santo negro da Igreja Católica nos EUA.

Nascido em 1854, em um período em que a liberdade era um privilégio de poucos, Tolton chegou ao mundo com a alma marcada pela dor e pela fé. Seu pai, Peter Paul Tolton, fugiu para lutar na Guerra Civil e morreu como soldado do Exército da União. Sua mãe, Martha, corajosa e determinada, atravessou o rio Mississippi com os filhos, fugindo da escravidão no Missouri para encontrar liberdade em Illinois. Na travessia, disse ao pequeno Augustus:

“Você está livre. Nunca se esqueça da bondade do Senhor.”

Foi ali que a história dele começou de verdade.

Com o apoio de um padre católico que reconheceu sua vocação, Tolton foi batizado, fez a primeira comunhão e começou a sonhar com o sacerdócio — um sonho ousado para um jovem negro nos Estados Unidos do século 19. Nenhum seminário do país o aceitou. Mas sua fé era maior que qualquer muro. Ele seguiu para Roma, onde foi acolhido e ordenado padre em 1886, aos 31 anos.

Quando voltou ao seu país, já como sacerdote, enfrentou racismo, resistência e olhares tortos, mas não desistiu. Fundou uma paróquia em Chicago voltada à população negra, a Igreja de Santa Mônica, e ali viveu até sua morte precoce, aos 43 anos. Era amado por sua comunidade, chamado com carinho de “Padre Gus”. Cantava, pregava com doçura e falava vários idiomas — entre eles, latim, grego, alemão e até dialetos africanos.

Sua vida foi tão marcante que, em 2019, o Papa Francisco o declarou venerável, o segundo passo no caminho para a santidade. Um milagre aprovado poderá torná-lo o primeiro santo negro dos Estados Unidos.

Mais que uma figura religiosa, Tolton representa um povo. Carrega em si a resistência dos que acreditam, mesmo quando tudo diz o contrário. Sua história nos lembra que espiritualidade e ancestralidade caminham lado a lado — e que há santidade também nas peles negras, nas margens e nos que ousam sonhar com um mundo mais justo.

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