No compasso vibrante do hip hop, jovens negros e periféricos têm encontrado não só música, mas também um lugar de fala, cura e resistência. Para muitos, ritmos como o rap, o breaking e o grafite são mais do que arte: são formas de existir, contar histórias e questionar as estruturas que tantas vezes os silenciaram.
É justamente essa força transformadora da música que move a pesquisa realizada no âmbito do programa Território Hip Hop, iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. O estudo buscou entender de que maneira as mensagens sobre negritude presentes nas letras de rap impactam a construção de identidade, subjetividade e uma postura antirracista entre jovens negros e periféricos.
Em um Brasil marcado por desigualdades raciais profundas, ritmos como o rap se tornam trincheiras de luta e espaços de aprendizado. Eles não apenas denunciam injustiças, mas também inspiram autoestima, pertencimento e esperança em futuros possíveis. Nas rimas e batidas, esses jovens encontram palavras que nomeiam suas dores, mas também seus sonhos, transformando a música em uma ferramenta poderosa de educação e mobilização.
Durante a pesquisa, foram acompanhadas as vivências de jovens do Território Hip Hop em contato com músicas de artistas fora do eixo Rio-São Paulo, como Baco Exu do Blues, da Bahia; Cristal, do Rio Grande do Sul; e Djonga, de Minas Gerais. As entrevistas e encontros mostraram que, além de entreter, o rap desperta memórias, fortalece a autoestima e incentiva novas formas de agir, falar e lutar contra o racismo.
Mais do que um estilo musical, o rap se consolida como linguagem política e espaço legítimo de produção de conhecimento, vindo das ruas para questionar o silêncio imposto às populações negras. Nesse cenário, rappers se afirmam como intelectuais públicos, capazes de propor outros modos de existir e resistir.
Os achados desse estudo interessam a educadores, pesquisadores, artistas, gestores públicos, coletivos culturais e movimentos sociais, pois mostram como a arte pode ser um caminho potente para educar, mobilizar e construir uma sociedade mais justa. Afinal, em cada batida, verso e rima, o hip hop segue ensinando que outro mundo é possível — e que ele pode começar pelo som que ecoa nas periferias.