Séries como Mindhunter e o documentário da HBO Atlanta’s Missing and Murdered trazem de volta um dos capítulos mais sombrios da história americana — mas nem elas conseguem responder à pergunta que ecoa há mais de 40 anos: quem matou as crianças de Atlanta?
Entre 1979 e 1981, ao menos 28 meninos e jovens negros desapareceram ou foram assassinados em Atlanta, cidade que se vendia como exemplo de progresso e integração racial no sul dos Estados Unidos. Enquanto as famílias viviam o medo de perder seus filhos, a polícia, em boa parte comandada por brancos, tratava muitos desaparecimentos como “fugas” ou brigas de gangues.
No auge do pânico, a prisão de Wayne Williams, um jovem negro, parecia a solução perfeita. Ele acabou condenado por dois assassinatos de adultos, mas a polícia atribuiu a ele quase todas as mortes para encerrar o caso. Para muitos, culpar um “serial killer negro” foi conveniente: evitava mexer em suspeitas de envolvimento da Ku Klux Klan e protegia a imagem de uma Atlanta moderna e livre do ódio racial.
Documentos do FBI revelados anos depois mostraram conversas de membros da Klan sobre sequestrar meninos negros. Mas essas provas sumiram ou ficaram guardadas por décadas. Autores, investigadores e podcasts como Atlanta Monster continuam questionando se Wayne Williams foi realmente o assassino — ou um bode expiatório.
O escritor James Baldwin já dizia que o medo em Atlanta não nasceu apenas de um assassino, mas de um sistema pronto para esquecer crianças negras. Quatro décadas depois, Atlanta ainda carrega essa ferida — e as séries ajudam a lembrar que a história segue cheia de silêncios.