Revista Raça Brasil

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Michael Jackson: o que realmente aconteceu com a cor da pele do Rei do Pop?

Por muitos anos, a mudança na cor da pele de Michael Jackson alimentou boatos, teorias da conspiração e julgamentos precipitados. O astro, que começou a carreira ainda criança com a pele escura característica de seus traços afro-americanos, tornou-se com o tempo um homem de pele clara, quase branca o que para muitos soou como uma rejeição de sua identidade negra. No entanto, a verdade por trás da transformação de Jackson é muito mais complexa do que parece à primeira vista.

A doença que mudou tudo: vitiligo

Michael Jackson sofria de vitiligo, uma condição autoimune que causa a perda progressiva da pigmentação da pele, formando manchas brancas em diferentes partes do corpo. Essa doença foi confirmada por documentos médicos, depoimentos de médicos que o trataram, e posteriormente pela autópsia, após sua morte em 2009.

Em entrevista à apresentadora Oprah Winfrey em 1993, Michael falou abertamente sobre o assunto:

“Tenho uma desordem da pele que destrói a pigmentação. Não posso fazer nada sobre isso. Quando as pessoas inventam histórias dizendo que eu não quero ser quem sou, isso me dói.”

A revelação foi um marco, pois até então o público ainda se dividia entre acreditar na existência da doença ou interpretar a mudança como uma escolha estética ou social.

O peso do vitiligo e os procedimentos estéticos

Embora o vitiligo possa afetar qualquer pessoa, seus efeitos costumam ser mais visíveis e psicologicamente impactantes em pessoas negras, justamente por conta do contraste entre o tom original da pele e as manchas despigmentadas. Segundo o depoimento de seu dermatologista, Dr. Arnold Klein, Michael usava maquiagem e despigmentação total da pele como estratégia para uniformizar seu tom de pele, já que as manchas eram cada vez mais visíveis e difíceis de disfarçar.

Além do vitiligo, Jackson também sofria de lúpus, outra doença autoimune que afeta a pele e outros órgãos. O lúpus causava manchas, sensibilidade à luz e exigia o uso de medicamentos fortes, que também podem afetar a aparência da pele.

O racismo estrutural e o olhar do mundo

Apesar da explicação médica, a imagem de Michael Jackson foi e ainda é analisada sob a lente do racismo estrutural. Durante décadas, a indústria do entretenimento impôs padrões estéticos brancos como os únicos aceitáveis, especialmente nos Estados Unidos. Não é coincidência que muitos artistas negros tenham sido pressionados a alisar o cabelo, afinar o nariz ou suavizar traços considerados “africanos”.

Jackson cresceu e se consolidou como estrela em uma época em que ser negro ainda era visto como um obstáculo em muitas esferas do entretenimento e da sociedade americana. Embora ele fosse um ícone global, sempre esteve sob intenso escrutínio, sendo julgado por sua aparência, sua voz, sua sexualidade e suas escolhas pessoais.

É importante lembrar que Michael nunca renegou sua negritude. Ele expressou orgulho de sua ancestralidade em músicas como “Black or White” e “They Don’t Care About Us”, e em ações concretas, como suas doações e apoio a instituições negras, artistas e comunidades marginalizadas.

O mito da “brancura desejada”

A narrativa de que Michael Jackson “queria ser branco” é uma simplificação perigosa e injusta, que desconsidera não apenas os fatores médicos envolvidos, mas também os efeitos psicológicos de viver com doenças que mudam o corpo de forma visível. Michael conviveu com dores, vergonha, e a pressão constante da fama desde a infância. A forma como lidou com o vitiligo — com maquiagem, tratamentos, e o desejo de parecer “normal” diante do público foi uma tentativa de controle e proteção, e não necessariamente um ato de negação identitária.

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