Revista Raça Brasil

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O preço e o espetáculo da morte

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Mauricio Pestana

CEO do Grupo Raça Comunicações. Jornalista, publicitário, cartunista e escritor, referência no país e no exterior no que diz respeito à produção de materiais didáticos nas áreas de diversidade, cidadania e direitos humanos. Foi secretário de Promoção da Igualdade Racial da Cidade de São Paulo e, atualmente, é diretor executivo da Revista Raça.

A morte da turista brasileira Juliana Martins, de 26 anos, que caiu na beira de um vulcão na Indonésia, faz refletir sobre o preço da vida, da morte e do click nas redes sociais. A tragédia foi explorada de forma sensacionalista, inclusive com viés político, serviu de combustível para uma comoção nacional. No entanto, é importante questionar alguns aspectos dessa comoção.

A negligência das autoridades indonésias e brasileiras na demora de se movimentarem no resgate demonstrou um certo despreparo para lidar com a situação. Além disso, o translado e custo operacional de tudo que envolveu o caso serviu de pretexto para exploração política e debate acalorado sobre os custos de uma vida ceifada no exterior. Mas é importante perguntar: quem cuida e quanto custa morrer aqui mesmo no Brasil? Estamos preocupados em amparar nossos mortos?

Os custos dos serviços funerários no Brasil são exorbitantes e inacessíveis para muitas pessoas. Na cidade de São Paulo, por exemplo, os preços mais baixos para sepultar um ente querido variam de R$ 3.250,00 a R$ 4.613,25, reflexo da falta de investimento público nessa área, um problema que afeta diretamente a dignidade e o bem-estar das famílias que precisam lidar com a perda de um ente querido.

A morte é um tema que deveria ser tratado com respeito e dignidade, mas nas redes sociais, ela é muitas vezes explorada para fins de click e visibilidade. É um reflexo da sociedade contemporânea, que valoriza o espetáculo acima da vida e da dignidade humana. É importante questionar essa lógica e buscar formas de tratar a morte e a dor com mais respeito e compaixão.

É importante também lembrar que os assalariados, que não ganham nem o suficiente para viver, ou melhor, para morrer e, portanto, não dão likes em redes sociais ou viram notícia, são os mais afetados pela falta de investimento público nos serviços funerários e pela privatização da morte.

É um problema que afeta diretamente a dignidade dos mais pobres e vulneráveis. É hora de questionar essa lógica e buscar mais dignidade e menos espetáculo na morte, independentemente ser for à beira de um vulcão na Indonésia ou em uma periferia excluída e esquecida no Brasil.

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