A ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá foi condenada a quatro anos de prisão em regime aberto por racismo, injúria racial e lesão corporal. O caso, ocorrido em abril de 2023 em São Conrado, bairro nobre do Rio, chocou o país ao expor abertamente a violência racista e classista ainda presente na sociedade brasileira.
Os vídeos que viralizaram mostravam Sandra xingando e agredindo entregadores negros com frases como “voltem para a favela” e “lixo de favela”. A situação escalou quando ela desferiu um soco na cabeça de um dos trabalhadores e tentou agredi-lo com a guia do cachorro, deixando marcas comprovadas pelo IML.
Na sentença, o juiz Bruno Manfrenatti foi enfático ao caracterizar o crime como um ato de segregação social. Ele destacou que as falas da ex-atleta, incluindo “quem paga IPTU aqui sou eu”, revelavam uma tentativa clara de excluir pessoas negras e pobres de espaços públicos.
O magistrado ressaltou ainda que os xingamentos proferidos – “preto de favela”, “marginal” – não eram ofensas isoladas, mas expressões de um racismo estrutural. A pena, no entanto, gerou polêmica por ter sido aplicada em regime aberto, levantando questionamentos sobre possíveis privilégios da ré.
A defesa de Sandra já anunciou recurso, alegando discordância da decisão. Enquanto isso, movimentos sociais celebram a condenação como uma vitória simbólica, mas lembram que muitos casos similares sequer chegam ao judiciário.
Especialistas apontam que o episódio reflete a naturalização da violência contra trabalhadores periféricos. O fato ocorrido em um bairro de elite apenas tornou mais visível o cotidiano de humilhações enfrentado por entregadores, garis e outros profissionais.
Mais do que uma punição individual, o caso coloca em debate a necessidade de transformações profundas. Enquanto o racismo continuar enraizado na sociedade, histórias como essa seguirão se repetindo – com ou sem câmeras para registrá-las.