A última semana marcou um dos momentos mais tensos da Câmara Municipal de Palmas. Durante sessão no plenário, o vereador Thiago Borges (PL) fez um discurso que chocou colegas e o público presente. Irritado com a decisão da Prefeitura de suspender a distribuição de Bíblias nas escolas — ação feita pelos Gideões Internacionais —, o parlamentar partiu para um ataque direto à cultura africana e à população negra.
Num tom de ameaça, Borges afirmou:
“Os africanos têm meu total respeito. O povo que sofreu na época da escravatura, os negros têm o meu respeito, todos têm o meu máximo respeito. Mas eu sei onde eles querem chegar. Eu sei onde querem chegar. Eu sei qual é o suprassumo dessas intenções. Eu não vou permitir. E eu vou lutar contra.”
A fala gerou perplexidade imediata. Para além da questão religiosa que motivou seu desabafo, o discurso acabou revelando preconceitos profundos e alarmantes.
Quem se levantou para responder foi a vereadora Thamires Lima (PT). Com serenidade e firmeza, ela rebateu:
“Eu não sei o que o vereador quer dizer com isso, mas eu te digo aonde a população negra quer chegar. Porque, sim, historicamente somos um povo sofrido, historicamente fomos escravizados. E hoje nós estamos lutando para estar cada vez mais inseridos no mercado de trabalho, nas universidades, inclusive nas casas de lei. Nós estamos, sim, correndo de todo atraso que a escravidão trouxe para as nossas vidas. Isso é por meio da educação, do conhecimento da nossa história, da nossa cultura, para sermos respeitados. Os negros vão cada vez mais chegar em espaços de decisão para que os nossos corpos não sejam alvejados, para que os nossos jovens não sofram opressão da polícia. Nós estamos aqui, sim, para mostrar que somos um povo resistente e vamos continuar resistindo a todas as atrocidades que o racismo estrutural traz para a sociedade. Isso nós vamos estar realizando, sim. Podem ter certeza disso.”
Em meio a esforços do Tocantins para combater o racismo — liderados por órgãos como a Secretaria Estadual de Igualdade Racial e a Secretaria Extraordinária de Igualdade Racial e Direitos Humanos de Palmas —, o episódio expôs o quanto discursos de ódio e preconceito ainda encontram eco até mesmo em espaços públicos que deveriam representar toda a sociedade.
Movimentos negros e representantes políticos cobram da Câmara de Palmas um posicionamento firme contra as declarações do vereador Thiago Borges. Muitos exigem que o caso seja levado à Comissão de Ética e que o parlamentar dê explicações públicas sobre o que quis dizer ao insinuar que a população negra teria intenções ocultas que ele estaria disposto a combater.
O momento é também um alerta para a sociedade, que se aproxima de um novo ciclo eleitoral em 2026. Para muitas lideranças, é essencial barrar candidaturas e discursos que usam a religião ou ideias extremistas como palanque para espalhar ódio ou preconceito.
Enquanto não houver uma retratação oficial, ecoa no plenário — e fora dele — a firme resposta de Thamires Lima: os negros já chegaram e estão onde sempre deveriam estar, apesar de quem insista em não enxergar essa realidade.