Revista Raça Brasil

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100 anos de Clóvis Moura – um intelectual no combate ao racismo

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Zulu Araujo

É Arquiteto, Mestre em Cultura e Sociedade e Doutor em Relações Internacionais pela UFBA. Ex-presidente da Fundação Palmares.

“A liberdade é uma luta constante” Clóvis Moura

Essa era uma expressão muito presente nas falas de Clóvis Moura, intelectual dos mais respeitados no Brasil e que dedicou sua vida profissional e política, bem como suas pesquisas e publicações, a questão racial brasileira.  

A frase, funcionava como um mantra para Moura.

Até porque, o combate ao racismo, foi e continua sendo uma “luta constante”, para todos/as aqueles/as que sonham com um Brasil minimamente decente e democrático.

Clóvis Moura era de origem nordestina. Nascido Clóvis Steiger de Assis Moura, no dia 10 de junho de 2025, na cidade de Amarante no Piauí.

Era jornalista, sociólogo, historiador, escritor, militante e amante de uma boa conversa.

Ainda jovem, (entre as décadas de 40 e 50 do século passado), transitou pela Bahia e por São Paulo, exercendo a militância comunista e o jornalismo, momento em que manteve contato com grandes expoentes da literatura brasileira, a exemplo de Jorge Amado, Armênio Guedes, Vilanova Artigas, Caio Prado Júnior, dentre outros, fato este que o levou a fazer parte da Frente Cultural que traduzia as ideias dos comunistas de então sobre a cultura no Brasil.

Por conta da sua militância comunista, chegou a ser redator do Jornal O Momento, importante publicação da cidade do Salvador à época, assim como da Revista Fundamentos, publicada trimestralmente pelo PCB de São Paulo.  

Na década de 60, rompeu com o PCB e passou a integrar o PCdoB (Partido Comunista do Brasil).

Moura, não apenas pesquisou sobre o tema racial. Foi um questionador implacável, tanto da falácia da chamada“democracia racial brasileira”, simbolizada no livro de Gilberto Freyre – “Casa Grande e Senzala”, como também dos equívocos cometidos pelo movimento negrobrasileiro, ao não incorporar a luta de classes como elemento central no combate ao racismo no Brasil.

Concordemos ou não com suas ideias, temos que reconhecer: Clóvis Moura, deixou um importante legado, não só para ativistas e pensadores do movimento negrocomo para a esquerda brasileira.

Por isso mesmo, a produção intelectual de Clóvis Moura, merece ser revisitada e celebrada.

Moura, já no seu primeiro livro, intitulado “Rebeliões da Senzala – quilombos, insurreições, guerrilhas” (1959), dá contribuições importantes para o campo da sociologia e do pensamento marxista brasileiro, ao abordar de forma singular a relação entre o escravismo e a luta de classes no Brasil, apresentando a contradição entre escravizado e escravocrata, como elementos que foram a pedra de toque do desenvolvimento colonial brasileiro.

Para Moura: “A escravidão não é apenas uma mácula na história do Brasil. É também uma estrutura oficialmente sepultada cujas sombras teimam em determinar o presente”

Possuindo uma sólida tradição marxista, adquirida nas suas passagens tanto pelo PCB quanto pelo PCdoB, Clóvis Moura, esmiuçou como poucos as entranhas do racismo brasileiro e sua relação direta com o modo de produção capitalista.

Na sua vasta produção, ele tratou a um só tempo do sistema escravista e da formação do estado brasileiro, do mercado de trabalho e do desenvolvimento capitalista no Brasil, das desigualdades sociais e raciais e das religiões, todos eles temas considerados sensíveis para os intelectuais brasileiros.

O Negro: de Bom Escravo a Mau Cidadão? (1977) e o Dicionário da escravidão negra no Brasil (2004) são publicações marcantes e incontornáveis se desejamos conhecer com profundidade o pensamento de Clóvis Moura sobre a seriedade com que Clóvis Moura trata a questão racial brasileira.

Portanto, celebrar o centenário de nascimento de Clóvis Moura, é também, uma oportunidade de valorizarmos a pesquisa e o conhecimento sobre o escravismo no Brasil, sua relação intrínseca com o desenvolvimento capitalista brasileiro, visto que, foi e continua sendo um elemento crucial para o entendimento da sociedade brasileira.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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