A presença de pesquisadores negros no comando de grupos de pesquisa no Brasil quase triplicou entre 2000 e 2023, passando de 8,1% para 22,6% — cerca de 15 mil dos 66 mil líderes atuais. O dado, divulgado por pesquisadores do Ipea e do IFNMG, revela avanços importantes, mas também mostra que a desigualdade racial ainda é grande na ciência brasileira.
Apesar de serem maioria na população, pretos e pardos seguem sub-representados na liderança acadêmica, principalmente em áreas como física, medicina e engenharias. Até mesmo em regiões onde negros são maioria, como Norte e Nordeste, a proporção de líderes negros ainda é menor do que deveria.
Histórias como a da física Zélia Maria da Costa Ludwig, da UFJF, ilustram os desafios enfrentados. Mulher negra e líder de um grupo na área de nanotecnologia, ela conta que levou anos para conquistar financiamento e montar infraestrutura de pesquisa. “Tive apoio, mas essa não é a realidade da maioria das meninas negras”, diz.
Políticas como o Reuni e a Lei de Cotas ajudaram a ampliar o acesso de negros às universidades e à pesquisa, mas, segundo especialistas, ainda falta garantir condições para que cheguem a cargos de liderança.
“Há avanços, mas precisamos continuar lutando para ocupar espaços de decisão e romper as barreiras do racismo estrutural”, afirma Débora Cristina Jeffrey, diretora da Faculdade de Educação da Unicamp, primeira mulher negra a assumir um cargo de direção em uma unidade da universidade.