Revista Raça Brasil

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Meninos negros sonham alto, mas o Brasil ainda não os vê

No Brasil, mais da metade dos meninos negros entre 13 e 17 anos sonha em ser influenciador digital ou jogador de futebol. Não é só vaidade ou vontade de aparecer. É o desejo de ser visto, reconhecido, existir num país que, tantas vezes, insiste em não enxergá-los.

Eles querem liberdade, voz, dinheiro — mas também dignidade. Porque, apesar de negros e pardos serem mais da metade da população, ainda estão longe das salas de aula das universidades, das redações jornalísticas, das cadeiras de chefia. E se veem sem espelhos.

“Quando um jovem negro diz que quer ser influenciador, ele está dizendo que quer ser visto, ouvido, reconhecido”, explica o educador Zé Ricardo Oliveira. Não é falta de talento, nem de vontade de estudar. É falta de oportunidade — e de quem lhes diga que há outros caminhos possíveis.

A escola ainda é um lugar onde eles se sentem deslocados, onde a história do povo negro quase nunca aparece. Fora dela, a mídia também não os mostra como protagonistas. Apenas 20% dos jornalistas mais conhecidos do Brasil são negros. O resto da imprensa, quase sempre, fala sobre eles — mas raramente com eles.

Na internet, surge a esperança: ali, pelo menos, podem se ver representados. Mas a rede também pode ser cruel, feita de algoritmos excludentes, racismo, discurso de ódio. O sonho de fama, às vezes, se torna armadilha.

É bonito ver esses meninos sonhando alto. Mas é doloroso saber que, muitas vezes, o sonho nasce porque quase não há outras escolhas. O educador Humberto Baltar cita o símbolo africano sankofa, o pássaro que olha para trás enquanto leva um ovo no bico: “Precisamos garantir a essas crianças e jovens negros o direito de sonhar e existir plenamente.”

Porque o Brasil precisa aprender, de uma vez por todas, que esses meninos negros não são ameaça. São potência.

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