O 25º Concurso Beleza Negra, que abre inscrições nesta quinta-feira (10), em Caxias do Sul, vai além da estética: propõe-se a celebrar autoestima, pertencimento e resgate histórico.
No entanto, em uma cidade marcada por episódios de racismo e sub-representação negra, o evento levanta questões sobre o quanto essas iniciativas, embora simbólicas, de fato reverberam em políticas públicas efetivas. A exigência de taxa de inscrição, por exemplo, pode ser um obstáculo para muitas candidatas, revelando um paradoxo entre o discurso de inclusão e a prática.
A evolução do nome, de “Mais Bela Negra” para “Beleza Negra”, reflete uma tentativa de ampliar o debate, saindo do viés puramente estético para enfatizar identidade e representatividade. Alex Pires, diretor da Casa da Cultura, destaca o caráter político do concurso, mas é preciso questionar: até que ponto a sociedade caxiense, historicamente conservadora, absorve essa mensagem?
A data do evento, 25 de outubro, próxima ao Dia da Consciência Negra, é emblemática, mas a celebração não pode ser apenas um ritual anual, desconectado de ações cotidianas contra o racismo.
O apoio de múltiplas secretarias municipais e entidades como o COMUNE e o Movimento Negro Unificado demonstra uma articulação institucional relevante. No entanto, chama a atenção a ausência de dados sobre o impacto real do concurso na vida das participantes ou na comunidade negra local. Seria fundamental que, além do palco, houvesse métricas claras de como o evento influencia educação, emprego e combate à discriminação na região.
Caxias do Sul, cidade com raízes fortemente eurocêntricas, ainda carrega o peso de um passado que marginaliza populações negras. Nesse contexto, o Beleza Negra é uma trincheira de resistência, mas sua continuidade exige mais que discursos. É urgente que as instituições envolvidas transformem o simbolismo do concurso em mudanças estruturais, como cotas em empregos e universidades, ou campanhas permanentes de conscientização.
O concurso, em sua essência, é uma vitória, mas também um lembrete: a luta antirracista não se encerra em desfiles ou premiações. Enquanto a beleza negra for exaltada apenas em eventos pontuais, e não no cotidiano das políticas públicas, a transformação social seguirá incompleta. A pergunta que fica é: quantos mais 25 anos serão necessários para que a celebração se torne, de fato, uma realidade incontestável.