O Ministério da Educação (MEC) instituiu nesta quarta-feira (9/7) o programa Na Ponta do Lápis, que pretende articular iniciativas de educação financeira, fiscal e previdenciária para estudantes do ensino básico. A medida, publicada pela Portaria nº 502/2025, tem como foco principal beneficiários do programa Pé-de-Meia, mas se estende a todas as escolas públicas do país.
A iniciativa surge como tentativa de implementar na prática os temas econômicos previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), promovendo o que o MEC chama de “cidadania crítica”. No entanto, especialistas questionam se a abordagem será capaz de superar desafios históricos: dados do Inep mostram que apenas 28% das escolas brasileiras trabalham educação financeira de forma sistemática.
O programa prevê formação de professores, orientação curricular e monitoramento de resultados, mas sua eficácia dependerá da adesão voluntária de estados e municípios – modelo que já mostrou limitações em políticas educacionais anteriores. Um comitê estratégico multisetorial será responsável por articular as ações, reunindo representantes de vários ministérios.
Apesar do discurso inovador, o Na Ponta do Lápis herda desafios estruturais: falta de capacitação docente, carência de materiais didáticos específicos e resistência em incluir o tema de forma transversal no currículo. Enquanto o MEC fala em “formação integral”, a realidade das escolas muitas vezes esbarra na falta de infraestrutura básica.
Analistas ponderam que a medida é bem-vinda, mas alertam para o risco de se tornar mais uma política fragmentada. “Sem investimento em formação continuada e mudança na cultura escolar, programas como esse podem ficar no papel”, adverte Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência em Políticas Educacionais da FGV.
O sucesso da iniciativa dependerá de como será implementada nos territórios. Enquanto o MEC promete “fortalecer a democracia e a inclusão”, o desafio concreto será garantir que conhecimentos financeiros cheguem de fato aos estudantes – especialmente aos mais vulneráveis, que mais precisam dessas ferramentas para romper ciclos de desigualdade.