Revista Raça Brasil

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Os Guilhermes nossos de cada dia

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Mauricio Pestana

CEO do Grupo Raça Comunicações. Jornalista, publicitário, cartunista e escritor, referência no país e no exterior no que diz respeito à produção de materiais didáticos nas áreas de diversidade, cidadania e direitos humanos. Foi secretário de Promoção da Igualdade Racial da Cidade de São Paulo e, atualmente, é diretor executivo da Revista Raça.

O assassinato de Guilherme Souza Dias, um trabalhador negro de 26 anos, é mais um triste exemplo da violência que assola o Brasil, especialmente contra jovens negros, nas últimas décadas.

De acordo com o Atlas da Violência 2024, 76,5% das vítimas de homicídio no Brasil eram pessoas pretas e pardas, enquanto a taxa de homicídio de pessoas negras foi de 29,7 casos por 100 mil habitantes, a de brancos foi 10,8 por 100 mil, incluindo amarelos e indígenas. Isso significa que, para cada pessoa não negra assassinada no Brasil, 2,8 negros foram mortos. Ou seja, a morte de pessoas negras é quase o triplo de pessoas de outras raças e etnias.

A pandemia da Covid-19, do início desta década, na qual todos prometiam que sairíamos melhores, não apenas expôs as desigualdades sociais e econômicas do país, assim como o ideário de “melhores” ficou só na promessa, pois os números mostram que se intensificaram a violência contra jovens negros.

Em 2021, a proporção de pessoas negras assassinadas no Brasil atingiu sua maior marca em 11 anos, com 78,5% das vítimas de homicídio sendo negras. A taxa de homicídios entre negros, em 2021, foi de 31 casos para 100 mil habitantes, o triplo da registrada entre o restante da população.

O Brasil tem uma das maiores taxas de homicídio de jovens negros do mundo. Enquanto isso, países como a África do Sul, que também tem uma história de desigualdade racial e uma população majoritariamente negra, registraram taxas de homicídio mais baixas em alguns anos.

O assassinato de Guilherme Souza Dias não é um incidente isolado, mas sim parte de um padrão de violência, que afeta desproporcionalmente jovens negros em solo brasileiro. A idade média das vítimas de homicídio é um indicador alarmante: em 2022, quase metade dos homicídios registrados aqui vitimaram pessoas jovens, com idade entre 15 e 29 anos. São 22.864 casos, uma média de 72 jovens assassinados por dia.

É urgente que sejam implementadas políticas públicas eficazes para reduzir a violência e proteger a vida desses jovens. O Plano Juventude Negra Viva, implementado pelo governo federal em 2023, pode ser um passo importante nessa direção, com medidas preventivas e integradas em diversos setores, como educação, trabalho, saúde, cultura, segurança pública, esporte e ciência e tecnologia. Porém, isso só não basta. A sociedade brasileira precisa se manifestar, questionar e pressionar o poder público, tanto federal como estadual e municipal, para dar um basta na matança de jovens negros em nosso país, que pelos números se assemelha a uma pandemia.

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