Em um cenário global onde a conectividade escolar se tornou pauta prioritária, a secretária de Educação Básica, Kátia Schweickardt, emergiu como voz fundamental no Fórum Global GIGA, em Genebra. Sua fala não se limitou a celebrar números – ainda que impressionantes, como os 87 mil colégios públicos conectados –, mas confrontou a essência do problema: em um país marcado por abismos sociais, levar internet às escolas é, antes de tudo, um ato de redução de desigualdades.
Schweickardt soube traduzir em termos concretos o que muitos gestores tratam como abstração. Ao apresentar a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (Enec), não se ateve a discursos sobre “futuro digital”, mas detalhou mecanismos muitas vezes invisíveis: a governança interministerial que evita duplicidade de esforços, os padrões mínimos de velocidade que impedem conexões apenas no papel, e o monitoramento contínuo que pressiona por resultados. São essas engrenagens burocráticas, quando bem ajustadas, que determinam se uma política será efetiva ou mera retórica.
Sua crítica implícita ao modelo anterior ficou clara ao destacar que os US$ 400 milhões investidos desde 2023 seguem uma lógica distinta: não se trata de projetos pontuais, mas de uma política de Estado com prazo definido (2026) e metas mensuráveis. Ao vincular conectividade à formação docente – ressaltando a necessidade de preparar professores para o uso ético e pedagógico da tecnologia –, Schweickardt demonstrou compreender que infraestrutura sem qualificação é ponte para lugar nenhum.
Na mesa ministerial da Cúpula WSIS, a secretária elevou o debate ao posicionar o Brasil como ator estratégico na transformação digital global. Seu discurso evitou dois extremos comuns: o ufanismo vazio e o complexo de vira-lata. Em vez disso, apresentou um país que reconhece seus desafios (como a desconexão de 80 mil escolas restantes) mas avança com planejamento – um contraponto relevante em um fórum onde nações ricas costumam ditar a narrativa.
Por trás dos dados, porém, persistem questões que o evento em Genebra não esgota: como garantir que a internet chegue de fato às escolas rurais da Amazônia ou às periferias urbanas, onde operadoras têm menos interesse? De que forma evitar que a digitalização aprofunde desigualdades, já que 61% dos estudantes brasileiros não têm computador em casa? Schweickardt parece consciente dessas armadilhas ao enfatizar o “uso significativo” da tecnologia – conceito que vai além da mera disponibilidade de conexão.
Se há um legado de sua participação no GIGA, é a demonstração de que políticas educacionais exigem tanto visão macro (articulação global, marcos legais) quanto micro (entender que uma escola indígena no Xingu tem necessidades distintas de um colégio técnico em São Paulo). Seu desafio agora é transformar o plano apresentado na Suíça em realidade tangível – especialmente em um contexto de restrições orçamentárias e pressões por resultados imediatos. A aposta é alta: provar que o Brasil pode ser caso de sucesso, não apenas de potencial, na revolução digital da educação.