Revista Raça Brasil

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“Mundo da Lua” retorna à TV Cultura com nova geração e magia reinventada

Trinta e quatro anos depois de encantar o Brasil, “Mundo da Lua” retorna às telas trazendo não apenas nostalgia, mas uma importante inovação: pela primeira vez, uma criança negra assume o papel principal na série. Emília, vivida pela jovem atriz Sabrina Souza, carrega o legado do gravador mágico do pai Lucas (agora interpretado por Marcelo Serrado) enquanto escreve sua própria história com a ajuda do robô Felix. A escolha de uma protagonista negra não é casual – representa um marco na televisão infantil brasileira, que tradicionalmente relegou personagens negros a papéis secundários ou estereotipados.

A série original, exibida entre 1991 e 1992, já era revolucionária por seu conteúdo educativo e abordagem lúdica da imaginação infantil. Agora, a nova temporada avança ainda mais ao apresentar uma família negra contemporânea em posição central na narrativa. Pathy Dejesus como Isabela (mãe de Emília e esposa de Lucas) e Bárbara Bruno como Carolina (avó da protagonista) compõem um núcleo familiar que reflete a diversidade racial brasileira, tão presente na sociedade quanto ausente na televisão. Essa representação importa profundamente – crianças negras assistindo se verão, talvez pela primeira vez, como heroínas de sua própria história.

Flavio de Souza, roteirista da série desde a primeira versão, enfatiza que as novas histórias são “mais emocionantes, profundas e engraçadas”, explorando tanto o universo infantil quanto o adulto. A inclusão do robô Felix dialoga com as crianças de hoje, enquanto a manutenção de personagens como o avô Rogério (Antonio Fagundes) cria uma ponte entre gerações de espectadores. Mas é a figura de Emília, com sua curiosidade, inteligência e imaginação sem limites, que se torna o coração dessa reinvenção – mostrando que protagonismo negro na infância não precisa estar vinculado a dramas sociais, mas pode simplesmente ser sobre sonhar e descobrir o mundo.

A importância dessa representatividade vai além do entretenimento. Pesquisas em desenvolvimento infantil mostram como a autoestima de crianças negras é diretamente impactada pela ausência de personagens com quem possam se identificar positivamente na mídia. Ao colocar Emília no centro de aventuras mágicas e cotidianas, “Mundo da Lua” contribui para corrigir essa distorção histórica, apresentando uma narrativa onde a negritude não é exceção, mas parte natural do universo infantil.

A produção mantém o charme e a qualidade educativa que consagraram a série, agora atualizada para falar com uma geração que cresceu com tecnologia mas ainda precisa de espaço para sonhar. O gravador que encantou os anos 1990 agora divide cena com um robô, mas a essência permanece: a crença no poder transformador da imaginação. E, nesta nova fase, essa mensagem ganha um significado ainda mais profundo ao ser transmitida por uma protagonista negra, mostrando que todas as crianças – independentemente de cor – podem e devem se ver como estrelas de suas próprias aventuras.

Com estreia prevista para setembro na TV Cultura e Globoplay, a nova temporada de “Mundo da Lua” promete não apenas entreter, mas fazer história na representação infantil na televisão brasileira. Num momento em que a diversidade na mídia se torna pauta urgente, a série demonstra como é possível renovar um clássico sem perder sua essência – e, ao mesmo tempo, corrigir omissões do passado. Afinal, se a imaginação não tem limites nem cores, por que nossas histórias deveriam ter?

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