Revista Raça Brasil

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‘Não sou racista, tenho até amigos negros’

Antônia Fontenelle se pronunciou pela primeira vez após ser acusada de racismo e transfobia por falas direcionadas à deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), uma das primeiras mulheres trans a ocupar uma cadeira no Congresso Nacional. O vídeo que gerou o processo mostra a influenciadora se referindo a Erika como “preta do cabelo duro” — expressão que, embora tenha sido usada em um contexto de discurso político, foi considerada ofensiva e discriminatória.

Durante uma live transmitida nesta segunda-feira (28), Fontenelle negou que tenha cometido racismo. “Estão me acusando de um crime muito sério. Eu desafio qualquer um a encontrar um histórico racista meu”, declarou. Ela ainda reforçou que já foi casada com dois homens negros e que tem amigos negros e LGBTQIA+, argumentando que valoriza o caráter das pessoas, e não a cor da pele.

Segundo Antônia, a fala foi inspirada em um discurso anterior feito pela própria Erika Hilton no Congresso, e que teria apenas reproduzido o trecho como forma de comentário político. No entanto, em determinado momento da live, a influenciadora faz outras observações sobre a aparência da deputada, como o uso de perucas loiras e procedimentos estéticos, levantando críticas que foram vistas por muitos como ataques pessoais.

A parlamentar moveu uma ação judicial no dia 19 de julho, após ter acesso ao vídeo. Ela afirma que as declarações extrapolam os limites da liberdade de expressão e reforçam estigmas históricos que atingem mulheres negras e pessoas trans no Brasil.

O caso tem gerado intensa repercussão nas redes e reaberto reflexões importantes sobre racismo estrutural e representatividade. A fala de Fontenelle levanta um ponto delicado: a ideia de que ter relações com pessoas negras anula automaticamente qualquer possibilidade de comportamento racista. Especialistas alertam que o racismo não se limita à intenção, mas está ligado a contextos históricos, palavras, estigmas e estruturas que precisam ser desconstruídas com responsabilidade.

Erika Hilton, ao longo de sua trajetória, tem se tornado uma figura simbólica na luta por justiça social, igualdade racial e direitos da população trans. Diante disso, ataques à sua identidade ou aparência ganham uma proporção ainda mais significativa em um país onde ser mulher, negra e trans ainda é sinônimo de resistência diária.

Agora, caberá à Justiça avaliar o caso. Enquanto isso, o debate sobre respeito, representatividade e o peso das palavras segue urgente — especialmente quando se trata de vozes com alcance público.

Fonte: Correio Braziliense

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