Por Flávia Cirino
Cozinheira perde tudo após golpe cruel de Odete e precisa recomeçar vendendo lanches na praia
O sucesso de Raquel em “Vale Tudo”, vivido por Taís Araujo, parece não durar muito. Após conquistar o público com sua trajetória de superação e empreendedorismo à frente do restaurante Paladar, a personagem sofre um duro golpe orquestrado por Odete Roitman (Débora Bloch).
Nos próximos capítulos, a empresária verá todo seu esforço ruir quando a vilã descobre que Celina (Malu Galli), sua irmã, é sócia oculta do empreendimento. Odete, motivada pela vingança e pelo controle, ameaça expor o envolvimento de Celina com Raquel para Heleninha (Paolla Oliveira), sabendo que isso afetaria a relação da artista com a cunhada.
Pressionada, Celina cede à chantagem e vende sua parte no restaurante. Com o negócio nas mãos da antagonista, o Paladar é liquidado. Raquel, que havia estruturado o restaurante com dedicação, se vê sem saída. Em pouco tempo, perde tudo: empresa, equipe e estabilidade financeira.
Sem alternativa, volta a vender lanches na praia, mesma atividade que exercia ao chegar ao Rio de Janeiro, após ter sido enganada por Maria de Fátima (Bella Campos). A retomada do trabalho ambulante surge como símbolo da resiliência da personagem, mas também levanta debates entre o público. Nas redes sociais, muitos espectadores questionam a necessidade de mais uma queda para a protagonista, destacando o cansaço em ver personagens negras sempre sendo testadas ao limite.
Internautas criticam roteiro e apontam injustiça com personagem preta
A decisão dos roteiristas de levar Raquel de volta à estaca zero gerou forte repercussão. O sentimento de frustração entre os fãs revela algo mais profundo do que simples desapontamento com a trama. Para muitos, ver uma mulher negra perder tudo após alcançar o sucesso reforça um imaginário já exaustivamente explorado em produções televisivas.
A trajetória da personagem, marcada por esforço, honestidade e iniciativa, havia se consolidado como uma representação positiva e inspiradora. A quebra dessa imagem, ainda que temporária, toca em feridas que extrapolam a ficção.
Nas redes, a indignação se concentra no fato de que Raquel sofre sem ter cometido erros, apenas por estar no caminho de uma mulher rica e branca. O contraste entre as personagens escancara tensões raciais e sociais que ganham força especialmente quando envolvem protagonismos pretos em horário nobre.
Apesar da reação do público, o roteiro reserva uma reviravolta breve. Celina, arrependida, recompra a sede do restaurante e presenteia Raquel como forma de reparação. O gesto devolve à protagonista o espaço conquistado por mérito, mas não sem antes submetê-la a mais uma provação.
A escolha por fazer Raquel cair para depois reerguê-la segue uma lógica clássica do melodrama, mas evidencia a necessidade de discutir como os corpos negros são colocados nessas narrativas. A expectativa do público por um destino mais justo para a heroína negra demonstra que os tempos mudaram — e que o olhar do telespectador também.