Durante anos, Nova Friburgo foi celebrada como a “Suíça Brasileira”, exaltando sua colonização europeia enquanto ignorava uma parte essencial da sua própria história: a presença e o protagonismo do povo negro na formação do município. Agora, um importante passo está sendo dado para reparar essa omissão.
A cidade acaba de inaugurar a sala Luzes de África, uma exposição permanente no Museu Nova Friburgo que resgata a memória e o legado das populações negras que ajudaram a construir a região muito antes da chegada dos colonos suíços. Entre esculturas, joias, fotografias, documentos e relatos orais, a mostra dá voz às histórias que foram silenciadas — mas que sempre estiveram presentes.
É um ato de justiça. A historiadora Vanessa Melnixenco lembra que os negros, em sua maioria trazidos como escravizados de regiões como Congo, Angola e Moçambique, já viviam na antiga Fazenda do Morro Queimado, onde mais tarde foi fundada a colônia. Mesmo com toda essa contribuição, eles foram sistematicamente apagados da história oficial, do hino da cidade e até mesmo das instituições culturais.
Hoje, cerca de 33% da população friburguense se declara preta ou parda, número que mostra a força e a continuidade desse legado. A nova exposição é um gesto simbólico, mas necessário, de reconhecimento da dor, da luta e da riqueza cultural trazida por essas pessoas. É também uma forma de devolver dignidade às memórias de tantas famílias que moldaram a cidade com suas mãos e suas histórias.
O espaço nasce do esforço coletivo de pesquisadores e movimentos negros locais, como o Coletivo Negro Lélia Gonzalez e o Coletivo Império das Negas, que participaram ativamente do projeto. “Queremos falar por nós mesmos”, afirma Michely Felício, uma das coordenadoras.
Mais do que uma exposição, Luzes de África é um convite para recontar a história com mais verdade e menos silenciamentos. É a cidade olhando para o passado com coragem, para finalmente construir um futuro mais justo e representativo.
